quinta-feira, abril 25, 2013

Reality – A Grande Ilusão


Já em seu título, Reality acena com as duas faces da moeda com que pretende construir sua crítica. Anuncia ali um díptico metafórico em que a realidade entrará em confronto com o “reality”. Este último entra como termo associado hoje aos reality shows, cuja franquia “Big Brother” parece ser o maior expoente em vários lugares do mundo.

É também assim na Itália, onde Big Brother vira “Grande Fratello”, única diferença em relação à fórmula que conhecemos por aqui. O resto é mais do mesmo, desde cenários até o perfil dos participantes.

Igual também é o anseio que algumas pessoas têm de fazerem parte dos “escolhidos” do programa, ligando a isso não apenas a fama instantânea e a chance de mudar de vida. Duas ideias que vão, sorrateiramente, permear a cabeça de Luciano (Aniello Arena) após ele ter feito um teste para o programa.

Luciano é o dono de uma peixaria numa humilde comunidade da região de Nápoles. Membro destacado dessa comunidade, ele complementa a renda que sustenta esposa e três filhos com trambiques armados com a mulher. Seu destaque na comunidade vem de suas performances em festas, quando se transveste em personagens que fazem a alegria de todos.

Pois será em uma desses festas, um casamento, que a aparição programada do vencedor da última edição do “Grande Fratello” desperta em todos o fascínio pela celebridade. Ele é Enzo (Raffaele Ferrante) e descrever sua participação como “aparição” não é exagero. Fugaz, sua entrada se resume a acenos, rápidos cumprimentos e meia dúzia de palavras para os noivos. A saída é apressada. Precisa dar conta de uma ampla agenda de aparições.

Seu discurso, em todas elas, é um mantra, representativo de uma atitude de vendas e sucesso: never give up. Nunca desista. Cântico dos vitoriosos e segredo das celebridades. Mesmo as mais estéreis, como costumam ser as que são alçadas a esse status pelo programa.

É esta relação de fascínio e ao mesmo tempo de conquista possível que o diretor Matteo Garrone trabalha em seu filme. No desenrolar de eventos casuais, Luciano se envolve na seleção para o programa e à medida que avança passa a ter certeza que será um dos escolhidos.

Inicia-se aí um descolamento gradual da realidade. Luciano passa a encarar com obsessão sua entrada no programa e age como se estivesse sendo observado e avaliado o tempo todo. Uma situação que vai do razoável ao completo absurdo.

Através da insanidade cômica de Luciano – por trás da qual habita uma intensa melancolia – vê-se os efeitos viciantes do programa em seu universo particular de “bolha” vigiada, espécie de paraíso artificial do sonho moderno e midiático da fama.

Mas a riqueza do filtro que Reality apresenta está em como o filme revela as graves distorções que pode haver na percepção da realidade. Uma percepção que pode ser contaminada pela indistinção entre fronteiras do real e do imaginado, à medida que se deixa contaminar por uma realidade fabricada.

Secundariamente, e com a mesma sutileza, Garrone desembala o mito da celebridade pré-fabricada. Problematiza a relação desse mito com o real e expõe seu valor estéril. No passado, as celebridades estavam inacessíveis na condição de reis e rainhas (e a abertura do filme explora isso dentro de sua chave fake e irônica). No século 20, coube à classe artística e ao pop se revestir desse brilho, mas já se fazendo menos distante da plebe. Então se cumpriu a profecia de Andy Warhol e com isso deu-se a completa esterilização da fama, na qual é possível ser famoso sem qualquer atributo além do de ser famoso.

Numa cena de Reality, a aparição de Enzo será em uma casa noturna, pendurado por cordas, flutuando sobre os demais. Um voo falso e sem sentido, para lugar algum. Mesmo assim, enche de fascínio uma plateia hipnotizada. Entre eles estará Luciano, alimentando seu desejo de também voar. Basta que ele nunca desista. Never give up, insiste o mantra. Tão destituído de significado quanto todo o resto.
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Reality
Matteo Garrone
Itália/França, 2012
116 min.

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terça-feira, abril 23, 2013

O Futuro







A certa altura de O Futuro, num gesto de pequeno desespero, o jovem Jason (Hamish Linklater) faz o tempo parar. Ao fazê-lo, impede que Sophie (Miranda July) diga algo que o vá machucar irremediavelmente. Depois de um tempo, sem saber se o tempo ficou parado por alguns minutos ou por dias, não consegue mais fazê-lo retomar o curso. Mas sabe que não pode parar o tempo para sempre.

Escritora, artista plástica e performática, roteirista, diretora e atriz, Miranda July se lança pela segunda vez na direção de um roteiro de sua autoria. O primeiro, Eu, Você e Todos Nós (2004), deu à ela o Camera d’Or no Festival de Cannes em 2005, prêmio destinado a diretores estreantes, além de mais de 15 prêmios em outros festivais. O sucesso colocou July entre os nomes mais promissores do cinema independente.

Poética e estranhamento parecem ser o material preferido pela diretora para compor seus filmes e seus personagens, estes últimos sempre deslocados no mundo. Em O Futuro, a diretora aborda o relacionamento de um casal pela perspectiva do tempo e da dissolução natural que ele trás. Porém, sua forma passa longe de abordagens convencionais, fazendo de metáforas e signos o material da narrativa.

O fator que desencadeia os eventos da história trata da adoção de um gato portador de uma doença terminal. A imensa responsabilidade de abrigar um animal em seus últimos meses de vida afeta a perspectiva de ambos sobre o tempo. Essa lógica particular do casal é exasperada quando descobrem que houve casos em que animais na mesma condição, por terem sido bem cuidados, chegaram a viver por cinco anos.

O que era um compromisso de meses torna-se para eles uma possibilidade de anos. Na quase paranoica visão do casal, eles teriam já 40 anos depois disso, o que significa ter quase 50, que por sua vez seria já quase o fim da vida. Como eles têm apenas um mês antes do gato ser realmente liberado para ser adotado, encaram esses trinta dias como os últimos de suas vidas e passam a vivê-los sob essa perspectiva.

Tempo e compromisso está na base dos desdobramentos que o filme passa a narrar. Nem sempre lineares e nem sempre fáceis de serem entendidos. Da amizade de Jason com um velho casado há 50 anos até o relacionamento de Sophie com um homem mais velho, toda lógica narrativa do filme será composta por uma construção repleta de elipses que oscilam entre o onírico e o insólito.

Essa composição, que acena com o fantástico, faz de O Futuro uma fábula melancólica sobre a solidão e sobre o tempo. Daí que quando Jason não consegue fazê-lo se mover, a metáfora pode ser na verdade inversa, representando nossa impossibilidade de fazê-lo parar.

Poeticamente desconcertante, O Futuro pode parecer num primeiro momento um filme sem muito sentido, ou demasiadamente permeado por metáforas. Porém, mais importante que entender a lógica de sua engrenagem, cabe perceber sua atmosfera lúdica sobre a confusão dos sentimentos quando o tempo age sobre eles em uma relação. No caso de Jason e Sophie é como se o amor sempre se desgastasse, mas nunca morresse de fato.

Ao final, pode restar uma incompreensão do que tudo aquilo representa. Mas é o tipo de filmes do qual é possível se gostar sem saber por que se gosta. Parte desse efeito está na performance das atuações e no modo como July constrói seus planos e suas cenas. Mesmo na mais insólita delas, percebe-se que há uma sinceridade despojada, que mesmo sendo feita de complexidades, é mostrada com uma sofisticação simples e um sentimento amplo não apenas coerente dentro do filme, mas principalmente cativante dentro do olhar sensível da diretora.
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The Future
Miranda July
Alemanha/EUA, 2011
91 min.

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sexta-feira, abril 19, 2013

Uma Garrafa no Mar de Gaza







Uma garrafa atirada ao mar com uma carta dentro é o estopim improvável de uma amizade entre uma judia adolescente em Israel e um jovem palestino da faixa de Gaza. Um dispositivo bastante ingênuo para dar início a uma narrativa. Mas essa ingênua simplicidade será como que um alicerce para o desenvolvimento do filme, que rejeita a utopia sem abrir mão do sonho possível.

Uma Garrafa no Mar de Gaza é um filme sobre diálogo, mas também sobre pertencimento. Tal Lavine (Agathe Bonitzer) é uma judia francesa que se muda com os pais para Israel. Depois de presenciar um atentado, despeja sua inconformidade em uma carta dirigida a qualquer palestino de Gaza que a encontre. Atirada ao mar, a garrafa, com mensagem e endereço de e-mail, vai dar numa praia e é encontrada por um grupo de amigos.

Entre eles estará Naïm Al Fardjouki (Mahmud Shalaby). Órfão de pai, ele vive com a mãe e trabalha com o primo como entregador. Escondido dos amigos, que num primeiro momento zombam da carta encontrada, ele responde a mensagem por e-mail.

O início dessa troca de mensagens é irônico. Enquanto Tal quer verdadeiramente saber quem é esse povo que seu povo odeia, Naïm apenas responde com ironias preconceituosas. Mas o fluxo de mensagens vai aos poucos se estabelecendo pela troca verdadeira de histórias. Cada um conta a sua e se inicia um diálogo, não sem as constantes variações de tom, com agressões e destemperos.

Na construção desse diálogo, o filme é bastante falho em trazer um bom aprofundamento de seus dois personagens. Talvez porque um de seus problemas seja a demora em definir as motivações por trás de cada um. Apenas pela metade do filme sabe-se mais da real condição da família de Naïm e sobre a composição da família de Tal. São informações que ajudam a definir o caráter de cada um, mas que demoram muito a serem apresentadas ao espectador.

Essa indefinição faz com que a trama patine um pouco por não deixar claras as intenções e os fatores que movem (ou estancam) seus protagonistas. Por outro lado, o filme trabalha bem na ambientação contrastante entre os dois mundos. Em Gaza, nota-se a clara ausência de perspectivas para a juventude, desinteressada do estudo e à mercê de Israel. Já a rotina de Tal é cercada de confortos e de uma socialização, familiar e escolar, natural e saudável. Mas em ambos permanece o medo de ataques e atentados.

Ainda que se construa sobre certa superficialidade, fica sempre claro que o filme não tem a pretensão de estabelecer um debate refinado sobre o tema Palestina/Israel. Os pontos mais evidentes estão lá, como o ódio, a incompreensão, os argumentos básicos de ambos os lados, a violência e o medo. Mas o filme se foca mais no diálogo e na questão do pertencimento.

Esta última questão transparece tanto no modo como Tal vai se ajustando à cultura de Israel como no desejo e esforço de Naïm em sair de Gaza. Há neste descompasso um sintoma que o filme tangencia com inteligência.

Ao estudar francês e tentar uma bolsa de estudo na França, Naïm sinaliza que sua única opção de uma vida melhor é longe de sua terra. Já Tal parece ter o pleno direito de se desenvolver e ter futuro, seja na França, onde nasceu, seja em Israel, terra que hoje pertence a seu povo. Pincela-se com isso uma mensagem provocativa, através da qual o palestino simboliza o não pertencimento, um vácuo resignado no seu direito de pertencer.

Já a amizade construída entre Tal e Naïm, o filme não cai no equívoco de fabricar uma relação forçada, com gestos de ampla aceitação. Em vez disso, usa da ingenuidade de seu dispositivo para estabelecer uma mensagem do que é possível, sem arroubo de desbragada esperança, mas preservando certo tom ingênuo.

Sem apelar para o discurso muitas vezes vazio do respeito e da tolerância, mesmo na sua simplicidade consegue mostrar como a dinâmica da intolerância parece ser uma engrenagem irreversível.

Menos ambicioso, o resultado é apenas aquela esperança típica da juventude, de que com algum esforço pode-se chegar ao entendimento. Está aí sua melhor qualidade. Ao enquadrar dois jovens (que têm sonhos, desejos e dúvidas), restringe à esse universo as perspectivas de futuro, com tudo que há de ingênuo e de boa vontade na juventude. Assim, abre mão de ser um filme político ou de protesto, para ser apenas um filme jovem, cheio de boa vontade e com a devida dose de sonho possível.
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Une Bouteille à la Mer
Thierry Binisti
França/Israel/Canadá, 2011
100 min.

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quinta-feira, abril 18, 2013

Ginger & Rosa

A explosão populacional em alguns países após a Segunda Guerra Mundial ficou conhecida como Baby Boom, ou, “explosão de bebês”. Foi essa geração, nascida entre 1945 e 1963, o motor de grandes mudanças durante a efervescência dos anos 60 e 70. Estudiosos afirmam que diversas espécies, entre elas os humanos, se reproduzem mais quando se sentem ameaçadas de extinção.

É justamente em torno da ameaça de extinção que o filme Ginger & Rosa pretende trabalhar sua história, contando da amizade entre duas adolescentes, “nascidas no dia em que milhares morreram”: o dia em que foi lançada a bomba de Hiroshima. Essas são Ginger (Elle Fanning) e Rosa (Alice Englert), as filhas da bomba e que se verão novamente diante de igual ameaça em 1962.

Crescidas na Inglaterra pós-guerra, Ginger é introspectiva, dada à poesia. Como muitos de sua geração, tem pais jovens. Ele um escritor e professor universitário, ela dona de casa. Rosa é mais desinibida. Seus pais também são jovens, mas seu pai abandonou sua mãe muito cedo, deixando-as sós.

Inseparáveis desde a infância, elas vivem, assim como o resto do mundo, os dias de temor diante da iminência de uma guerra atômica. Trata-se da crise dos mísseis em Cuba, conflito diplomático entre que foi o auge da Guerra Fria e colocou o mundo à beira do holocausto nuclear em 1962. De uma bomba a outra, Ginger & Rosa se pretende um retrato e um olhar para aquela geração, a partir do medo e da liberdade dos anos 60.

Ginger encara seu medo como ativista, enquanto Rosa o esconde na sedução. Longe de sutilezas, o filme atravessa esses dias na vida das duas amigas alimentando uma iminente crise entre elas. A crise, natural da idade pela qual passam e acentuada pelo momento histórico de histeria, é a razão de ser do filme, mas não chega perto nem de traduzir o momento, nem de construir relações.

Com uma direção apática, feita de planos óbvios e montagem burocrática, Ginger & Rosa se revela abaixo do morno. Uma temperatura que contrasta com seu tema e com a época em que se passa. Tempo de efervescência, fundamentado em quentes ideologias e em uma geração que fez do temor da bomba e do repúdio à guerra o propulsor de mudanças sociais e lutas ferrenhas. Mas tudo isso fica distante do filme, que se desdobra sem emoções que traduzam seu tempo.

Sua principal falha, contudo, está na construção das relações. Não apenas entre as duas protagonistas, mas também entre outros personagens, como suas mães e o pai de Ginger. A frieza com que a trama é tocada pela diretora Sally Potter cria uma dramaturgia insossa, com personagens apáticos e desconectados. Não há conexão entre eles. Nem deles com o espectador.

O resultado é um filme sem vida, de roteiro promissor, mas mal resolvido. Das atuações automáticas e apagadas aos desdobramentos de seu final, vê-se no seu conjunto a intenção de ser um filme sofisticado e escrutinador de uma época e de seus efeitos. Mas na construção desse propósito o filme falha completamente.
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Ginger & Rosa
Sally Potter
Reino Unido/Dinamarca/Canadá/Croácia, 2012
90 min.

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Hoje

A ditadura militar no Brasil, um dos períodos mais sombrios da nossa história, deixou fantasmas sem fim na memória de quem viveu aqueles anos de terror. Sobre esses fantasmas, o cinema nacional já realizou diversos exercícios de expurgo, denúncia e reflexão. Porém, a despeito da indiscutível relevância de sempre lembrar o horror desse período, tornou-se inevitável que o tema fosse se desgastando à medida que a originalidade de abordagens escasseava. Hoje, de Tata Amaral, renova parte dessa originalidade diluída, trazendo sensibilidade e delicadeza no aparo de espinhos que nunca cessam de ferir.

O filme foi o grande vencedor do Festival de Cinema de Brasília de 2011, levando, entre outros, o prêmio de melhor filme e melhor atriz para Denise Fraga. Na história, baseada no livro Prova Contrária, de Fernando Bonassi, Denise é Vera, uma mulher de meia idade que está se mudando para um novo apartamento no centro de São Paulo. Ela acaba de comprar o imóvel e não esconde sua felicidade ao chegar sozinha no local e estourar um espumante.

Logo em seguida chega a mudança, trazida por dois carregadores contratados, que passam a subir os móveis da nova casa. Com exceção de uma torneira vazando, tudo vai bem, até que aparece Luiz (o ator uruguaio César Troncoso).

A aparição desse personagem diante de Vera causará uma profunda perturbação no seu dia, trazendo à tona lembranças, traumas e versões terríveis de um passado marcado pela incerteza. Uma incerteza que oscila entre a culpa e o ressentimento plantados no horror da tortura.

Dessa avalanche de sentimentos, enterrados em uma memória que reluta em ficar no passado, surge a catarse, tão difícil de ser aceita e encarada.

Com seu filme, a diretora Tata Amaral reconstrói a memória do horror se utilizando de uma intensa dramaturgia, desenvolvida exclusivamente dentro do apartamento. Para isso, entrega a seus atores a difícil tarefa de segurar o filme apenas com o jogo de cena e a intensidade de suas atuações. Ambos respondem à altura. Fazem do olhar, do contato físico e da expressão, o elemento que transpõe a tela e toca o espectador. Concentram no gesto o que precisa ser dito, interpretam com intensidade uma ampla gama de sentimentos, muitas vezes contraditórios.

Nessa densidade de microcosmo - nos cômodos de um apartamento como escaninhos da memória, no desfiado de ressentimentos que fagulham do embate entre os protagonistas -, o filme trabalha a culpa remoída dos que sobreviveram. Uma culpa espelhada na lembrança dos que ficaram no passado: mortos, desaparecidos, arrancados da vida.

Nasce daí a originalidade iluminada do filme, ao trazer para o presente o desdobramento do passado, mas sem a muleta da reconstituição. Esta, quando ocorre, se pauta nas atuações. É objetiva, dura e comovente, mas nunca um recurso fácil.

Mas é a complexa culpa de Vera o pilar do filme. Uma culpa que é depurada em cada cômodo do apartamento, como se o imóvel representasse o limiar entre se ter ou não o direito de ser feliz às custas de um passado tão traumático. É a dúvida do mérito, do direito de seguir adiante quando tantos ficaram para trás. A chave que desencadeia esta crise vem do apartamento e de como foi possível sua aquisição e se revela na figura de Luiz.

Mais do que resgatar o passado, Hoje fala do presente. Ainda que este "hoje" seja uma consequência direta da luta e das fissuras na alma provocadas pelo "ontem". Seu ponto de interrogação está no drama de seguir adiante, de merecer ou não a benesse de guardar o passado em seu lugar de memória e viver o hoje sem culpa.
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Hoje
Tata Amaral
Brasil, 2011
90 min.

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quarta-feira, abril 17, 2013

A Caça




Qualquer um com alguma rodagem em filmes de tribunal poderá perceber a manipulação da menina Klara (Annika Wedderkopp) ao ser indagada sobre abusos sexuais. Mas ali, na sala da diretora da escola infantil, não há nenhum advogado de defesa pronto a exclamar: “Protesto, Meritíssimo!”. Isso porque em casos de suspeita de pedofilia, jamais se ouvirá protestos em defesa do réu.

A Caça, do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, toca num assunto delicado com uma ótica sensata e incômoda. No filme, a cena da inquisição de Klara, garotinha de apenas quatro anos, serve como um preocupante sintoma do medo, quando se prefere acreditar no horror do que duvidar dele. Nasce daí, dentro da história, afirmações disparatadas, como a de que crianças não mentem.

Pois elas não só mentem como podem também fazê-lo por pura maldade. No caso da garotinha do filme, uma maldade cujas consequências ela não pode avaliar e que nasce de sua própria cofusão de sentimentos e rejeição. Daí ela acusar um funcionário da creche, Lucas (Mads Mikkelsen), de ter abusado dela. Uma acusação de graves consequências, especialmente em uma pequena comunidade onde todos se conhecem e são amigos.

Lucas é o único homem que trabalha na creche, vive sozinho desde que a mulher o deixou e demonstra gostar muito das crianças. Há nesse seu perfil um princípio do preconceito velado. Em tempos de paranoia, qualquer detalhe fora do socialmente esperado pode ser alimento para novos preconceitos.

Da sutileza no perfil do personagem os desdobramentos da acusação, Vinterberg explora em seu filme não apenas a irracionalidade, mas também o despreparo para se lidar com medo. Um medo que tem pautado pesadelos de muitos pais nos últimos anos diante da divulgação de casos de pedofilia.

Quando a acusação é feita, inicia-se a escalada desse medo, que leva ao irracional e à violência. Bastou o estopim e o que deveria ser uma suspeita a ser investigada com cautela logo se transforma em distorcidas certezas. Não há espaço para nada, nem diálogos, nem contestação. Uma vez acusado, o homem ganha seu estigma e não se livra mais dele.

Ao deixar clara a inocência de Lucas, o diretor mostra como o temor premente contamina tudo com ódio. Como veneno na corrente sanguínea, o ódio se espalha, fazendo com que as reações cada vez mais deixem de ver o ser humano para enxergar somente o monstro imaginado. Uma hipnose coletiva.

A Caça fala desse julgamento implícito e consensual, baseado mais no medo do que na avaliação dos fatos. Expõe a irracionalidade que afeta muito do nosso mundo, acuado no terror de uma realidade nem sempre clara, mas sempre assustadora. Na sua construção, o filme alerta para os perigos de um sentimento paranoico que pode envolver a todos, fazendo com que a imaginação perversa dos adultos seja muito mais grave (e estúpida) do que a imaginação maldosa das crianças.

Revela, acima de tudo, que julgamentos apressados e destemperados podem destruir a vida de inocentes. Porque em casos como o do filme, não basta nem a inocência, nem o tempo para apagar a mancha de uma acusação. Nesse cenário, sem que se perceba, tudo acaba sempre destruído e uma vez destruído, nada será como antes.
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Jagten
Thomas Vinterberg
Dinamarca, 2012
115 min.

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quinta-feira, abril 11, 2013

A Visitante Francesa

O diretor coreano Sang-soo Hong demonstra em A Visitante Francesa o prazer de se brincar com a ficção. É como se ele levasse ao cinema um exercício comum nas aulas de redação, aquele no qual se deve escrever uma história usando determinadas palavras. Hong vai além e escreve (filma) três histórias.

As palavras, que no caso do filme tornam-se objetos e elementos, seriam uma barraca de camping, um guarda-chuva, um bangalô, um salva-vidas, um farol e uma francesa em visita ao litoral da Coreia. Todos esses elementos se repetem nas três histórias do filme, interpretadas pelos mesmos atores, na mesma locação.

Superficialmente, está aí a graça de A Visitante Francesa; do filme e da personagem, interpretada sempre pela atriz Isabelle Huppert. Mas esta brincadeira, de aparente simplicidade e leveza, trás na sua constituição um inteligente olhar do diretor sobre as relações humanas, os deslocamentos (reais e internos) e a busca por pertencimento.

Já no seu dispositivo inicial, o filme livra-se de qualquer amarra do plausível para dar liberdade à imaginação, à ficção e, principalmente, ao despojamento. Uma garota e sua avó estão hospedadas em um balneário. Sabe-se apenas que estão ali à espera do desembaraço de um grave problema financeiro causado por um tio da menina. Para passar o tempo, a jovem decide rascunhar um roteiro para um filme. É a partir desse roteiro que vamos aos personagens e aos elementos recorrentes das três histórias, três versões rascunhadas de um roteiro.

Nas três situações, uma estrangeira é recebida no mesmo hotel. Sendo essa visitante francesa, todos conversam em inglês e em diferentes níveis de fluência e compreensão. Começa aí a muito sutil – e algumas  vezes embaraçosa – dificuldade de comunicação.

Quando ninguém fala seu idioma nativo, há sempre um estranhamento nas situações, uma hesitação, uma economia de palavras, ainda que as emoções sejam amplas. Como serão ao logo das histórias.

Mas é na repetida retomada das histórias, naquilo que elas tem de comum e de diferente entre si, que está a brincadeira e o reforço do olhar de Sang-soo Hong sobre as relações e sobre a ficção. Sempre como uma francesa chamada Anne, Huppert vive uma diretora de cinema, uma mulher casada em fortuito encontro com o amante, uma mulher que foi abandonada pelo marido que a trocou por uma coreana.

Anne se hospeda, passeia na praia, espera por alguém, lembra passagens com amigos, encontra-se com um amante, consulta um monge budista, despede-se, come e bebe. Mas são sempre “Annes” diferentes. Repetidamente, elas pedem informações na praia sobre um farol. Há sempre ali um salva-vidas que fala muito mal o inglês e não entende bem o que elas procuram. Entre eles, sempre uma tensão sexual, com três destinos diferentes.

Cada Anne de cada história é um rascunho diferente de personagem, mas todas repetem o mesmo encontro com o salva-vidas de inglês ruim, justamente quando procuram por um farol. São todas estrangeiras, perdidas, buscando a mesma coisa sem que o outro as entenda muito bem.

Além de muito sutilmente construir uma alegoria da comunicação precária e das relações cujos sentidos se perdem na tradução dos sentimentos, o diretor ainda decifra na sua simplicidade uma corrente sensação de desencontro e desconforto.

Há sempre uma sombra de melancolia nas situações, disfarçada sob os sorrisos e gentilezas exageradas que o ser visitante recebe. Uma acolhida artificial, obrigatória. Uma permanente sensação de estar sem ser, como parecem sempre as personagens de Huppert no filme. Estão ali, mas não são dali. Não seria esta sensação um sentimento sorrateiro e permanente do presente?

Sem precisar construir toda uma alegoria pretensamente sofisticada, Sang-soo Hong desenvolve na leveza da simplicidade seu cinema inteligente. Consegue ser brilhante sem precisar parecer. Faz de A Visitante Francesa um delicado trabalho de camadas. Realiza-o como um filme de situações prosaicas, despojadas na aparência, mas riquíssimas na forma. Por baixo dessas situações transitam questionamentos e proposições instigantes. Tudo filmado com atenção e apuro, mas sem exibicionismo ou pretensão.
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Da-reun na-ra-e-seo
Sang-soo Hong
Coreia do Sul, 2012
89 min.

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quarta-feira, abril 10, 2013

Depois de Lúcia


É uma rápida aula de narrativa cinematográfica o modo como o diretor mexicano de Depois de Lúcia, Michel Franco, introduz seus personagens. Através de fragmentos que parecem desconectados, Franco nos oferece um pequeno quebra-cabeça. Nada muito complicado. Com as peças que vai mostrando, delineia seus dois personagens e a mudança pela qual passam. São pouquíssimo diálogos nesses minutos iniciais, nos quais apenas as imagens remontam e explicam o que se passa.

Pai e filha se mudam para outra cidade. Por trás dessa mudança, aos poucos, se revela o luto. Ele, um chef de cozinha, começa em novo emprego; ela, adolescente, em uma nova escola. Roberto (Hernán Menonza) e Alejandra (Tessa Ia) trazem a sombra de um trauma. Um peso que, involuntariamente, levaram na mudança. Está presente no semblante de cada um e mais ainda na relação entre eles.

No desenrolar da convivência, ficarão claros os aspectos profundos que os afetam e o modo como cada um vai lidar com sua perda. Nesse processo, uma falsa proximidade não esconde o real distanciamento. Efeito que levará ambos ao limite quando confrontados com o absurdo de situações inesperadas.

Depois de Lúcia constrói primeiro os abismo de comunicação, tão comum nas relações entre pais e filhos. Especialmente quando os filhos estão na adolescência. Sem pontes neste abismo, cada um dos personagens se verá sozinho, suportando (e depois reagindo, perigosamente) aos ataques de que será vítima.

Na escola nova, Alejandra experimentará de início uma normalidade. Até que um evento mal administrado resulta numa exposição que a transformará em alvo dos mais diversos abusos por parte dos colegas. Vê-se, a partir daí, seu estoicismo sem limites. Uma perturbadora submissão diante de violência cada vez mais dura.

Na outra ponta, o mesmo silêncio de Roberto para o distanciamento da filha. Longe de ser um pai indiferente, a aparente normalidade da relação serve de fuga do tema tabu entre eles. O diálogo não é proibido, mas implicitamente evitado. Nesta barreira que cresce entre eles pode estar a semente dos efeitos terríveis que virão. Fica evidente que ambos se punem em silêncio, dentro do qual compartilham uma culpa enorme pelo passado recente.

Com frio distanciamento, Franco conduz sua história recheando-a de crueldade. Há neste distanciamento do diretor, feito de planos fixos e ausência de trilha sonora, uma certa perversidade. Em especial no modo como retrata o terror que nasce da violência sofrida por Alejandra. Residem aí alguns exageros do filme, que parece se aproximar perigosamente de um descontrole na forma coma agrava sempre a situação.

Permeia toda a narrativa um forte desconforto, que nos atinge com força. É um filme que nos manipula pelo incômodo.Talvez seu efeito psicológico mais forte esteja em revelar toda uma sordidez, ao mesmo tempo que demonstra como ela é ocultada sob uma dissimulada normalidade entre os personagens. Tema recorrente nos dias de hoje, o bullying aqui é mostrado com uma ferocidade atroz, indo da escatologia à violência sexual.

O exagero pode ser justificado pela apatia submissa de Alejandra, mas beira o inverossímil por acabar criando dois mundos distintos e inexplicavelmente separados. O dos adultos e o dos adolescentes, como se o primeiro fosse incapaz de ver ou perceber o que se passa no segundo. Contudo, ainda que a construção desses mundos separados seja problemática no filme, não se pode negar que ela seja razoavelmente comum na realidade.

Mão pesada no retrato de uma ilimitada impiedade, atormentador e duro, Depois de Lúcia desfecha sua narrativa de forma sombria. O resultado das barreiras entre os dois mundos é uma tragédia que também parece mal elaborada pelo filme, mas isso não diminui seu impacto final, que nos deixa com uma desesperança angustiante.
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Después de Lucia
Michel Franco
Máxico/França, 2012
93 min.

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segunda-feira, abril 08, 2013

Xingu


Se os irmãos Villas Bôas dedicaram suas vidas para preservar a cultura e os povos indígenas, nada mais justo que o cinema nacional preserve a história desses três irmãos. Este é um dos motivos para se ver Xingu, de Cao Hamburger. Mas não o único.

O filme abre com uma licença para possíveis imprecisões históricas ao se dizer “livremente inspirado em fatos reais”. É essa licença que permite a liberdade de se contar uma história épica sem as amarras do detalhe. Um caminho acertado e bem trilhado pelo filme. Afinal, parte do roteiro nasceu de histórias ouvidas a partir da tradição oral dos índios do Xingu. Talvez não se possa dizer que aconteceu exatamente assim. Mas aconteceu. E o que aconteceu não foi pouco.

Vindos de uma família de classe média paulista, os irmãos Villas Bôas – Cláudio (João Miguel, de “Estômago”), Orlando (Felipe Camargo, de “Som e Fúria”) e Leonardo (Caio Blat, de “Bróder”) – sonhavam em desbravar o mundo e viver aventuras. Em 1943, quando o governo criou a Expedição Roncador-Xingu para penetrar no ainda inexplorado Centro-Oeste do país, os três irmãos viram a chance de realizar suas aventuras.

Inscreveram-se na expedição passando-se por trabalhadores braçais sem instrução escolar. Foram aceitos. Não poderiam imaginar, naquele momento, que passariam mais de 40 anos na mata; boa parte vivendo e lutando em defesa dos índios. Assim como não imaginavam que dali a 18 anos seriam responsáveis, em 1961, pela criação do Parque Nacional do Xingu, a maior reserva indígena do mundo.

Ao relembrar esta história – cuja frágil memória nacional sempre corre o risco de esquecer –, Cao Hamburger deixa um registro emocionante e apaixonado dos feitos desses irmãos. Embora épico pelo tema e pelo tamanho da aventura que narra, o filme não cai na armadilha de tratar a si mesmo como grandioso. É muito mais uma trilha contínua, uma picada aberta com bravura e simplicidade, que preserva nas opções escolhidas para a história o espírito honesto que remete aos irmãos aventureiros.

Sem se prender a detalhes, abre caminho através da memória e também do imaginário dos povos indígenas do Xingu, no qual as histórias dos irmãos já fazem parte da mitologia de sua tradição oral. Não é, contudo, uma fábula, mas sim uma narrativa aberta, que relata os acontecimentos históricos sem com isso deixar de dar espaço para as possibilidades do imaginário. Como a sugestão de um triângulo amoroso que se estabelece entre um dos irmãos e um casal de índios. Construído muito pela troca de olhares e pelo que não é dito, o espaço que se abre desta situação é um dos prazeres do filme, nunca fechado a verdades rígidas.

Dando plena sustentação a esse trabalho, estão as atuações do elenco. Do idealismo e maior introspecção de Claudio até a precipitação de Leonardo, passando pelo equilíbrio de Orlando, todo o elenco – que inclui diversos índios nativos da região como atores não profissionais – funciona muito bem e em sintonia.

Xingu não foi feito para ser uma eletrizante aventura, nem um registro minuciosamente documental da criação do Parque Nacional do Xingu. É antes de tudo uma aventura, narrada com sobriedade e respeito, sobre as realizações épicas de bravura e humanismo dos irmãos Villas Bôas.
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Xingu
Cao Hamburger
Brasil, 2012
102 min.

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domingo, abril 07, 2013

Uma História de Amor e Fúria

A animação nacional Uma História de Amor e Fúria é um filme bastante coerente com sua proposta. Mesmo nos pontos fracos, como a superficialidade de sua abordagem de aspectos históricos ou a repetição de sua mensagem central, existe uma permanente linha mestra, que atravessa todo o filme até mesmo na forma como se desenvolve seu simbolismo fantástico.

Escrito e dirigido por Luiz Bolognesi, sua trama é um sobrevoo na história de opressão e lutas do país, indo das primeiras décadas do Descobrimento até um futuro distópico no ano de 2096. Atravessando seis séculos, o narrador dessa travessia é um índio tupinambá (voz de Selton Mello), cuja maldição é não morrer. O dispositivo que o atrai para o centro de lutas inglórias é seu amor por Janaína (voz de Camila Pitanga), a quem reencontrará em diversas encarnações.

Duas frases servem de farol para a história que se vê na tela. Uma delas, repetida diversas vezes pelo protagonista, diz que “viver sem conhecer o passado é andar no escuro”. A outra, dita uma única vez, afirma: ”Meus heróis não viraram estátua. Eles morreram lutando contra aqueles que viraram”. Duas afirmações que encerram a coerência que o filme se esforça em construir.

Sob o pretexto do amor inquebrantável, sua narrativa pretende ser uma alegoria da luta contra a injustiça. Faz disso uma perspectiva sombria, de derrotas e perpetuação das injustiças, mas sempre atrelada à ideia de esperança. Não por acaso, a ave metafórica que se verá ao longo do filme como elemento de perpetuação da vida de seu protagonista lembra na forma e no destino a mitologia da Fênix, que sempre renasce das cinzas.

Este renascimento está ligado à luta, condição que se renova por gerações de oprimidos contra um sistema continuamente perverso. Das derrotas dessa luta, de suas cinzas pesarosas, renasce a esperança, motor de uma nova luta. Está nisso a boa intenção do filme, que dentro de limitações estéticas e técnicas a realiza muito bem.

Em se tratando de uma animação nacional, não cabe, claro, condescendência crítica pautada pela natural dificuldade e pelo surpreendente êxito em colocá-la em circuito. Porém tampouco se pode deixar de dar esta nota a feito notável. O que não impede de ver na sua execução algumas fragilidades.

Dentre essas fragilidades está o quanto há de superficial no retrato de fatos históricos. Mas não tendo o filme uma proposta de revisão histórica, suas simplificações são um problema apenas por se darem de forma apressada, sem tempo para o enlace dos personagens e para que se adensem suas nuances de momento.

Com uma duração de 74 minutos, esta pressa no seguir adiante prejudica o que o filme tem de melhor, que é tentar uma perspectiva histórica e cíclica da injustiça e da opressão, assim como a renovação da esperança na forma de lutas contra o sistema. Perde, com a fugacidade, estofo dramático. Mesmo em seu melhor segmento, que é o do futuro distópico, sente-se uma certa timidez na ironia crítica que envolve sua construção.

No momento de apontar para onde tudo pode descambar, detalhes saborosos aparecem, mas são superficialmente aproveitados. Uma timidez que enfraquece a contundência latente da ironia, presente no apenas mencionado “pastor da República” como chefe da nação, pedindo ao povo que reze a Deus para acabar com a seca no Nordeste.

Desta teocracia evangélica, vai-se ao problema da escassez de água potável, um gatilho para desmandos gananciosos e grupos de resistência armada combatidos por milícias oficiais. Está aí um Rio de Janeiro do futuro, feito de abismos e abusos sociais. Elementos saborosos que se enfraquecem no superficial. Em parte também pela ênfase no amor incondicional através dos séculos, linha central que quer dar liga à narrativa.

Mesmo com suas limitações, Uma História de Amor e Fúria funciona como crítica e aventura. A despeito da fragilidade técnica de animação, que tem traços modernos em sintonia com a produção atual, mas carece de articulação de movimento, o filme é uma surpresa positiva. Prende a atenção, cria expectativa, gera empatia no público. Sua resistente coerência em torno da importância de conhecer o passado para não destruir o futuro se mantém intacta ao longo da projeção, assim como seu viés de “lado b” da história oficial. Uma fidelidade que resulta numa experiência satisfatória.
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Uma História de Amor e Fúria
Luiz Bolognesi
Brasil, 2013
74 min.

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