sexta-feira, junho 10, 2011

Namorados para Sempre



Blue Valantine
Derek Cianfrance
EUA, 2010
112 min.

No final de semana do dia dos namorados já era de se esperar que estreasse na cidade algum filme romântico. A julgar pelo título, Namorados para Sempre, que entra em cartaz nesta sexta (10), é o filme que veio cumprir essa função. Mas é preciso tomar cuidado com as aparências. Quem esperar por um filme doce, cheio de romance, pode se decepcionar. Vai encontrar só metade disso. A outra metade é a vida real e os desafios de qualquer relação, que inclui superar o tédio, as frustrações e o cotidiano que muitas vezes esmaga qualquer história romântica.

Dean (Ryan Gosling, de Um Crime de Mestre) e Cindy (Michelle Williams, de Corações em Conflito) estão casados e têm uma filha de quatro anos, Frankie (Feith Wladyka). Cindy trabalha como enfermeira em uma clínica particular. Dean faz trabalhos esporádicos como pintor de casas.

Cindy encarna o elemento maduro da relação, enquanto Dean é do tipo que não gosta de se prender a horários e responsabilidades sisudas. Isso fica claro logo no início o filme, na relação de cada um com a pequena Frankie. Enquanto a mãe impõe rapidez no café da manhã e pressa em se vestir para que não se atrasem, Dean desce à infância da filha para juntos agirem da mesma forma, brincando com comida e fazendo graça um para o outro.

Quando na mesma manhã o cachorro da família desaparece, um pequeno abalo surge na relação. Para se livrarem de um problema, deixam a pequena Frankie na casa do avô até o dia seguinte. É quando Dean tem a ideia de passarem a noite num motel, sugestão que Cindy recusa prontamente por precisar ir trabalhar cedo na manhã seguinte. Mas Dean não sabe ouvir um não e o casal vai parar numa cafona suíte de motel com decoração futurista. Ali, entre acenos, avanços, recuos, gestos e discussões, virá à tona a erosão da relação desse casal. É quando começam os flashbacks do filme.

A narrativa segue em paralelo, mostrando a corrosão da relação em uma noite no motel e o início dessa relação, quando Dean e Cindy se conheceram por acaso, cinco anos atrás. Esse contraponto faz do filme uma delicada história de amor e um retrato sincero das consequências do desgaste desse amor.

Esse paralelismo da narrativa acentua de forma aguda o abismo que pode haver entre o ideal e o real. A beleza da história de amor entre Dean e Cindy, a forma como superaram dificuldades no início da relação, como se conheceram e se amaram imensamente, dá ao presente de ambos uma grande honestidade. O desenrolar desse início é repleto de cenas românticas, divertidas e também de superação. A forma como se unem e como se mostram dispostos a viverem seu amor de forma intensa e inesgotável enche os olhos e o coração do espectador.

A história do casamento de Dean e Cindy é uma dessas grandes histórias de amor. Foge ao romantismo cênico, de improbabilidades e gestos artificiais de carinho, para nos mostrar o nascimento de uma relação verdadeira, de fibra. A fibra que os ata não apenas pela paixão, pela conquista de um pelo outro, mas também pelo enfrentamento de problemas da vida real, juntos.

Com uma atuação bastante honesta de Gosling e Williams, o filme tem um timing preciso na construção de seu paralelo temporal. É feliz na composição da luz que reforça o frescor da paixão inicial com cenas clara, iluminadas com vivacidade; enquanto que nos momentos do presente as sombras, muito sutilmente, revelam o estado de desgaste e cansaço emocional.

Ao contrapor o romance inicial com a dureza da realidade de um casamento que se desgasta, o filme se mostra disposto a nos colocar no chão, a nos tirar do conforto lírico do romance idealizado. Revela, com isso, que a vida segue em frente. Isso faz lembrar uma frase de um filme que deve estrear ainda este mês, “The Romantics”, quando alguém diz que qualquer um é capaz de um grande gesto romântico, o problema é o que vem depois.

Namorados para Sempre, é um ótimo filme de amor, mas amor na vida real, com tudo que ela pode trazer de desgaste e desconforto. Não se rende a facilidades românticas, embora seja permeado pela beleza de uma relação nascida de uma verdadeira e resistente paixão. Mesmo em seu desfecho não entrega de bandeja o conforto típico de filmes românticos. Traz a beleza, traz a dor e emociona profundamente, porque acima de tudo é um filme sincero.
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