quarta-feira, outubro 19, 2011

Tarde Demais


Beaultiful Boy
Shawn Ku
EUa, 2010
100 min.

O olhar de Sammy (Kyle Gallner), logo no início do filme, perturba. Sua angústia é evidente. Ele é um universitário que acaba de ler sua redação em sala de aula. Fala de coisas que não serão mais as mesmas. Mais tarde, quando acompanhamos seu telefonema para os pais, vemos que chora, sem aparente explicação. Mas seus pais não notam. À beira da separação, Kate (Maria Bello) e Bill (Michael Sheen) se despedem do filho ao telefone de forma diferente. Ele diz “não se mate de estudar”; ela diz “estude duro”.

Kate e Bill veem no dia seguinte, estarrecidos, notícias sobre um atirador que matou dezenas de pessoas na universidade onde Sammmy estuda. Esperando, aflitos, notícias do filho, recebem a visita de agentes da polícia. O filho deles está morto, com um tiro na cabeça, disparado por ele mesmo após matar colegas e professores.

O desconcerto diante de uma notícia como essa é tremendo. Ao abordar uma inesperada perspectiva de tragédias que, inexplicavelmente e de forma atordoante, se repetem entre jovens, Tarde Demais tem nas mãos um rico material. As possibilidades dramáticas na construção da dor desses personagens, alvejados por um fato tão súbito quanto desnorteante, são imensas.

Estreando na direção, o diretor americano Shawn Ku parece querer experimentar uma narrativa menos densa, em que a duração arrastada da trama vai depurando a dor do casal. O resultado é questionável. Com muitos planos que não levam a narrativa adiante, nem convergem para exemplificar a dor dos personagens, o filme se torna monótono e sem aparente objetivo.

Repetitivo no isolamento dos dois e pouco verossímil no sucesso que obtêm em ficar longa da imprensa, a trama se mostra vacilante em definir a dor, culpa e transtorno de cada um. Quando finalmente ocorre uma ruptura, uma quebra feroz do silêncio e das amenidades discursivas, já se perdeu o interesse no drama e a dor de Bill e Kate parece artificial e distante.

O que seria material fértil e intenso, a depuração da dor, da culpa e da dúvida, se perde pela falta de objetividade e manejo na condução, distensão e refinamento do tempo. Resta um tema rico em uma trama pobre.
--

0 comentários:

 

Eu, Cinema Copyright © 2011 -- Powered by Blogger