domingo, dezembro 19, 2010

Insegurança



Quando saí da sessão de "A Rede Social", uma idéia emergia em minha cabeça. Estava com a impressão de que ao contar a história da criação do facebook e de seu criador, Mark Zuckerberg, o diretor David Fincher fizera um paralelo com um clássico da literatura alemã: "Fausto", de Goethe.

Quando li "O Filho Eterno", de Ricardo Tezza, percebi que o autor usava uma expressão recorrente ao se referir a si mesmo quando ainda não era um escritor publicado: brutal insegurança. Essa brutal insegurança dizia respeito à qualidade de seu texto. Ainda que ele o achasse bom, sua insegurança o impedia de ter certeza que o texto era efetivamente bom.

A identificação que tive ao ler o livro de Tezza foi imensa. Não só no que se refere às dúvidas típicas de qualquer escritor não reconhecido como tal, como – e isso se reforça agora – em outras áreas das minhas presumidas qualidades.

Assim, foi a mesma brutal insegurança que me fez duvidar de mim mesmo e de minha leitura do filme. A típica – e também estúpida – insegurança que me fez pensar se ter visto elementos de Fausto num filme sobre o Facebook não teria sido uma viagem minha.

Relutei em fazer esse paralelo no meu texto sobre o filme.

Por fim, contudo, assumi o risco e baseei parte de minha análise do filme citando Fausto como referência sub-textual. Acreditei, enfim, no que havia deduzido do filme e estava disposto a defender minha visão com um bom par de argumentos.

Toda essa reflexão me surgiu hoje quando li o texto que o crítico Ricardo Calil escreveu sobre o filme. Com uma ingênua alegria, li em seu texto a mesma análise, o mesmo paralelo que fiz entre a história de Zuckerberg e o clássico de Goethe. É o tipo de coisa que quando acontece contribui para dirimir um bocadinho mais essa tola e brutal insegurança.

A insegurança é sempre algo natural, desde que não nos afete ao ponto da paralisia. Grande parte dela provém de uma infundada percepção que temos de nós mesmos, agravadas ou atenuadas por fatores diversos. Natural, neste caso específico, achar que um crítico já estabelecido, ao reforçar uma impressão minha sobre um filme, respalde essa impressão, tendo em vista minha ainda insípida noção da sétima arte e minha brutal irrelevância para a crítica de cinema em geral.

Mas no fundo tudo é tolice. Ninguém precisa do respaldo de ninguém para afirmar suas próprias idéias, ainda que às vezes esse respaldo seja bem-vindo. É preciso superar a insegurança, bancar as opiniões próprias e respaldá-las com argumentos e não com concordâncias alheias. Ainda que se corra o risco de dizer bobagens e passar por arrogante e presunçoso, melhor vale a coragem de dizer o que pensa, do que a covardia de se esconder no silêncio.
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