sexta-feira, maio 13, 2011

Caminho da Liberdade



The Way Back
Peter Weir
EUA, 2010
133 min.


Embora retrate uma extraordinária jornada de homens determinados a alcançarem sua liberdade, “Caminho da Liberdade”, que estreia nos cinemas nesta sexta (13), demora a engrenar. E isso acontece justamente por começar rápido demais. Para um filme que tem nas mãos uma história de dimensões épicas, o pecado da pressa pode ser indesculpável.

Inspirado em uma história real,  o filme retrata a fuga de um grupo de homens de um gulag (prisão de trabalhos forçados da antiga União Soviética durante o regime totalitário de Stalin) na Sibéria. Mais do que fugir de uma das regiões mais inóspitas do planeta, o feito dos que sobreviveram foi chegar até a Índia, em uma caminhada de quase 6.500km.

O grupo é liderado por Janusz (Jim Sturgess, de “Across the Universe”), um polonês delatado pela esposa, que, sob tortura, foi obrigada a acusá-lo de espionagem. Ao chegar na prisão, ele conhece Valka (Colin Farrell, de “Miami Vice”), um temido ladrão e assassino russo que faz parte da mais temida gang dentro da prisão. Conhece também Smith (Ed Harris, de “As Horas”) um engenheiro americano que trabalhava no metro de Moscou. Junto com outros prisioneiros, planejam uma fuga considerada quase impossível.

No caso de um gulag, a impossibilidade da fuga não está restrita aos muros ou cercas de arame farpado de seu em torno. Mas na natureza que o cerca, com temperaturas muitos décimos abaixo de zero, a falta de comida e abrigo. Por outro lado, permanecer nessas prisões não era garantia de cumprir a pena com vida. Famosas por uma desumanidade comparável aos campos de concentração nazistas, os trabalhos forçados, a ração escassa, a violência entre os presos e o frio intenso faziam com que muitos morressem antes de cumprirem suas condenações.

Dirigido por Peter Weir (de “O Show de Truman” e “Sociedade dos Poetas Mortos”), “Caminho da Liberdade” é um filme displicente em sua primeira metade. É como se o filme, ansioso por adentrar logo nas grandiosas cenas de paisagens magníficas, se apressasse em amarrar as relações e motivações dos personagens, abrindo mão de construí-los com maior densidade e credibilidade.

Perde-se, assim, a chance de fazer com que o expectador crie vínculos com os dramas pessoais de cada um, ou mesmo sinta raiva e desprezo por outros. Essa desvinculação prejudica gravemente o restante da narrativa. Sem os laços necessários à empatia e à identificação, sobra apenas o grandioso da jornada, as estupendas paisagens e momentos dramáticos que, mesmo bons, se apresentam despontecializados de sua força plena.

Mesmo com essa falha estrutural, o drama intenso da caminhada que se apresenta na segunda parte comove e aflige. Nesse sentido, o filme cresce e transmite com uma boa dose de dor, sofrimento, penúria e baixas o tamanho do esforço e sacrifício daqueles homens em busca de uma liberdade tão distante geograficamente.

Nesse ponto, o diretor se mostra competente em colocar a paisagem não como um personagem do filme (o que seria um clichê), mas como um permanente desafio. De forma inevitável, será a transposição dos obstáculos da natureza, através de florestas escuras, frio congelante, desertos áridos, comida escassa e morte iminente, o que fará de cada um dos sobreviventes uma pessoa diferente. De maneira épica, clássica e previsível, é a jornada que transforma.

Com uma fotografia de encher os olhos, “Caminho da Liberdade” termina por ser uma boa experiência de cinema. Apesar de se afrouxar na emoção por conta de equívocos, consegue deixar bem marcada a grande superação de seus personagens e a dureza de sua sobrevivência. E feitos como o desses homens merece sempre respeito e admiração.
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