segunda-feira, janeiro 23, 2012

História Mundana



Mundane History
Anocha Suwichakornpong
Tailândia, 2009
82 min.

Nem atmosfera, nem narrativa. O que se impõe como marca desse sedutor e tocante filma tailandês é a ausência, os espaço vazios a serem preenchidos de vida ou de sofrimento. O tempo, numa dimensão cósmica, e o ciclo de todas as coisas; humanas e estelares.

Pun é contratado como enfermeiro para cuidar de Ake, um jovem que acaba de ficar paraplégico depois de um acidente. Órfão de mãe, Ake vê seu pai se distanciar, corroído por uma oculta aflição de ver o filho naquele estado.

A narrativa se monta sobre tempos mortos onde o silêncio ocupa o espaço como um peso, algo palpável; como a presença da tragédia ainda recente em cada lugar não ocupado pela palavra ou pelo gesto. Mas também é uma narrativa descontinuada. Pequenos avanços e recuos explicam cenas soltas, que se colocam como estranheza de sentimento, como imperfeição da relação.

A relação é a de um enfermeiro com seu primeiro paciente. Não uma relação de insegurança, apesar do claro desconforto inicial, mas um aprendizado de tato, de passos e contrapassos. Não há o que entender, somente o que sentir. Mas no universo de Pun e Ake, nenhum sentimento é de fácil de tradução.

Mundane History trata de como se estabelece essa relação, mas mostra também uma percepção particular de Ake, impossibilitado de viver como antes. Sua percepção de si e de sua condição é aos poucos traduzida por metáforas de composição cósmica. É quando o filme cresce e se encaminha para uma beleza difícil de traduzir, mas fácil de encantar.

Em sua cena final, a imagem, uma sequência de abrupta violência fecha e ao mesmo tempo abre o ciclo em compasso com a vida de uma estrela. É beleza distorcida, com dissonâncias no modo como se revela. Mas está ali, implícita, grandiosa e cotidiana. Um filme de encher os olhos. Cheio de brilho, nascimento, morte e vida.
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