sábado, janeiro 29, 2011

O Golem




Der Golem, wie er in die Welt kam
Paul Wegener e Carl Boese
Alemanha, 1920

Considerado uma das obras fundamentais do cinema expressionista alemão, “O Golem” é um filme que preserva grande parte de sua força até os dias atuais. Produzido em 1920 e dirigido pela dupla Paul Wegener e Carl Boese, impressiona pela fotografia e pela ousadia em seus efeitos especiais.

Vem da mitologia judaica a lenda do Golem. Uma criatura de pedra ou de cera com grande força e poder. Essa criatura pode ser “despertada” através de rituais de magia e servir ao povo judeu como seu protetor.

No filme de Wagener e Boese, uma comunidade judaica, da cidade de Praga, é ameaçada por um decreto do imperador. O respeitado Rabbi Loew, conhecido por ser um poderoso feiticeiro, recorre à antiga magia para dar vida à criatura Golem, na tentativa de salvar seu povo da desgraça.

Para realizar seu feito, Loew recorre às forças das trevas. Na ânsia de realizar a magia, ignora os riscos de se lidar com forças tão instáveis. Consegue dar vida á sua criatura. Realizado o feito, segue com ela até o palácio do imperador. Busca impressionar monarca e convencê-lo a voltar atrás em seu decreto.

Para muitos, “O Golem” é o mais antigo filme de monstro preservado até hoje. Existiu uma versão anterior, dirigida por Wegener em parceria com Henrik Galeen em 1915, mas esta não sobreviveu até os dias atuais. Nesta versão de 1920, os recursos empregados em algumas cenas são de uma qualidade e criatividade rara para a época.

Os efeitos da sequência em que Loew evoca as forças sobrenaturais são muito bem trabalhados e criam uma convincente atmosfera de magia. Em outro momento, quando o Rabbi conta a história de seu povo para a corte do imperador, através da mágica, abre-se uma janela sobreposta com imagens do Êxodo. Este efeito cria um resultado impressionante que muitos filmes atuais não conseguem criar.

Não são apenas os efeitos visuais que impressionam em “O Golem”. O filme possui também um roteiro de ótima qualidade, com suspense e reveses na trama. O fato de a criatura, em determinado momento, não mais obedecer a seu criador ao tomar consciência de sua existência, é um elemento que enriquece a trama. O resultado disso é a inevitável tragédia.

“O Golem” dialoga diretamente com “Frankenstein”, de Mary Shelley, clássico da literatura inglesa. Os desdobramentos do filme levam a uma reflexão sobre as consequências de se evocar forças sobrenaturais. Também não deixa de ser uma metáfora dos riscos de se “brincar” de Deus, dando vida a algo inanimado, exatamente como no livro de Shelley. No filme, a referência bíblica fica evidente pelo fato de o Golem ser feito de barro.

No final, o mal maior é evitado pela mais improvável das forças. É através da ingenuidade de uma criança que ele será detido. Um desfecho que guarda em si uma notória poesia.

“O Golem” é um filme que precisa ser resgatado e valorizado. Quando se fala em cinema expressionista alemão, são sempre as mesmas obras levantadas como clássicas. É claro que filmes como “Nosferatu”, “O Gabinete do Dr. Caligari”, “M - O Vampiro de Dusseldorf”, são obras memoráveis e grandiosas, importantíssimas para história e evolução da linguagem do cinema. Por outro lado, é sempre importante lembrar que esta fase áurea do cinema alemão não se resume a esses filmes. “O Golem” é um bom exemplo disso.
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