domingo, dezembro 18, 2011

O Espião Que Sabia Demais


 

Tinker Tailor Soldier Spy
Tomas Alfredson
França/Reino Unido/Alemanha, 2010
Duração: 137 min.

Um bom romance do escritor John le Carré, autor notabilizado por suas tramas de espionagem passadas durante a Guerra Fria; um bom diretor como Tomas Alfredson, responsável por um dos melhores filmes de vampiro dos últimos anos – a versão original sueca de Deixa Ela Entrar. É a soma desses dois fatores que resulta no filme O Espião Que Sabia Demais, baseado em livro homônimo de 1974.

Mas a pergunta que surge diante de seu argumento é o quanto uma trama de Guerra Fria pode ou não estar datada, 21 anos após a queda do muro de Berlin? Claro que por essa lógica qualquer filme histórico seria datado, e tal pensamento é simplesmente ridículo. Mas no caso específico da Guerra Fria, em contraste com o mundo atual, parece haver um indissociável anacronismo. Especialmente no caso da espionagem.

Reside aí parte do enfraquecimento do que está na superfície de sua trama: espionagem, contraespionagem, traição. O que a sustenta, no entanto, é aquilo que brota das entranhas do sistema: relações de poder, paranoia, vingança e, novamente, traição; num sentido mais pessoal e doloroso.

Mas mesmo este estofo consistente, capaz de fisgar o espectador com sua articulada trama de vigilância, investigação e suspense, perde-se pela má utilização daquilo que deveria ser a melhor qualidade do filme: o intrincado da trama.

Antes de “ser aposentado”, George Smiley (Gary Oldman, correto no papel) fez parte da cúpula de uma divisão especial dentro do serviço secreto britânico, chamada de Circo. Instalados em Londres, em um endereço desconhecido até pelo ministro a quem se reportam, essa cúpula comanda operações e mantém relatórios de máximo segredo de Estado. Quando surge a suspeita de que dentro do Circo há um agente duplo infiltrado, uma série de desdobramentos levarão Smiley a sair de sua aposentadoria e chefiar uma investigação para encontrar o traidor.

A simplicidade da trama é ilusória. Seu funcionamento como suspense, jogo de astúcia e thriller dependem de intrincadas relações entre muitos personagens, o histórico de cada um, suas ações e as consequências delas. Pois é justamente na construção dessa trama que o filme se atrapalha, especialmente no que diz respeito à forma como foi montado.

Na possível intenção de estabelecer suspense ou reter informações para criar reviravoltas na história, o filme se monta de forma confusa, dificultando a associação entre personagens, fatos e implicações. Em sua estrutura, parece perdido entre uma excessiva busca de fidelidade ao livro e o desejo de não ser literário enquanto cinema. Para sair desse impasse, opta por certo malabarismo na fragmentação de parte da trama, montando algumas sequências com uma não-linearidade sem grande resultado.

Essa fragmentação até colabora para segurar o suspense e trazer certas revelações no tempo certo, mas prejudica demais a conexão inicial com a narrativa. No balanço final, mais atrapalha que ajuda. Pois ao dificultar o rápido estabelecimento de conexão do público com as intrigas da história, desperdiça parte da riqueza de seu drama.

Sofrendo dessa grave falha, que chega a por em risco todo o filme, O Espião Que Sabia Demais só se sustenta porque tem uma boa história de espionagem. É rico em sua complexidade e na construção de um passado ressentido, de tempos implacáveis, de homens implacáveis. Pode-se notar em seus desdobramentos uma força dramática intensa, mas lamentavelmente subaproveitada por equívocos no modo como a história é contada.
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