Serge Gainsbourg
França, 1976
“Só as putas trepam em silêncio”, diz Krassky (Joe Dalesandro) ao ser expulso de um motel junto com Johnny (Jane Birkin). É com essa frase que Krassky, sem saber, define com precisa agudeza sua relação com Johnny. Uma relação que busca, sobre todas as coisas, algo verdadeiro, de intensidade única, que jamais poderia ser silencioso ou indiferente.

A estética do sórdido e da verdade. No filme de Gainsbourg sordidez e verdade são causa e consequência. A primeira resulta da condição das vidas dos personagens, que sobrevivem no lixo e cujos amores não podem sonhar com pureza ou beleza, ainda que se o deseje; no segundo caso, a verdade do sentimento, a clareza rude de uma relação e qualquer beleza que se posa tirar dela, é um artifício que buscam seus personagens, tão mergulhados que estão no vazio de si mesmos.
Pela carência de afeto, qualquer afeto, há a submissão passiva em conjunto com uma dominação também quase passiva. E desse estranho equilíbrio também se pode fazer poesia, ou ao menos uma fuga ilusória do lixo e da sordidez.

E é no sexo que Krassky e Johnny buscam o encontro da perfeição de seus pólos distantes. Mas sendo Krassky homossexual, só consegue se excitar por uma Johnny submissa e de costas, masculinizada pela sua androginia. A barreira a ser transposta nesse desafio de amor é a consumação do sexo anal, impossibilitado pela dor que causa em Johnny e por seus gritos lancinantes, que faz com que sejam expulsos de todos os motéis para onde vão.
A realização final desse amor estranho se dá, então, onde menos poderia haver poesia e onde melhor se poderia simbolizar a vida desses dois amantes: na caçamba do caminhão onde transportam lixo.

Mas, no final há, o ciúme - e a sordidez que nunca os abandona -, que mostra a realidade a que os três personagens estão presos, que diz que o amor enquanto fim não passa de apenas um meio para algo intangível e inalcançável. No fim, estão todos só.
Paixão Selvagem não é um filme transgressor simplesmente, é marginal em sua essência e é à margem que ele coloca e mantém seus personagens. Todos, sem qualquer chance de fuga de si mesmos e de suas naturezas; seja ela amar incondicionalmente, ou não amar incondicionalmente.
1 comentários:
PERFEITO!
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