sexta-feira, março 02, 2012

Billi Pig


Roteiro e pé-na-jaca são os dois grandes problemas de Billi Pig, filme nacional que estreia nesta sexta e traz no elenco Selton Mello, Grazi Massafera e o veterano Milton Gonçalves. O filme é a primeira incursão do diretor José Eduardo Belmonte na comédia e em uma grande produção. Conhecido – e até cultuado – por fazer um cinema independente, que explora dramas existenciais e personagens deslocados no mundo – como em Meu Mundo em Perigo (2007) e Se Nada Mais der Certo (2008) – Belmonte dá uma guinada e arrisca uma homenagem às antigas chanchadas de Oscarito e Grande Otelo. Mas com um roteiro frágil e alguma hesitação em atolar de vez o pé na jaca, o filme fica no meio do caminho, sem alcançar a graça e o escracho indispensáveis ao riso.

Billi Pig é o nome do porquinho de brinquedo de Marivalda (Grazi Massafera). Ele a acompanha desde a infância e é seu maior confidente e também voz de sua consciência, com quem ela conversa regularmente. Casada com Wanderley (Selton Mello), ela sonha em se tornar atriz e ter uma vida de glamour e estrelato, embora não tenha nenhum talento para atuar. Seu marido, um fracassado e gaiato vendedor de seguros que monta um escritório na garagem de casa, não sabe o que fazer para dar à esposa a vida que ela sonha. É quando ele vê em um falso padre milagreiro (Milton Gonçalves) a possibilidade de aplicar um golpe em um desequilibrado e desesperado traficante local, interpretado por Otávio Muller.


A falta de um roteiro consistente, indispensável mesmo em uma comédia popular que se pretende anárquica, como é o caso de Billi Pig, está na base dos problemas do filme. No apanhado, Billi Pig parece uma colagem de situações, tão fraca é a amarração que liga as cenas e os personagens. É pelas brechas dessa falta de consistência que qualquer tentativa de humor se esvai. O clássico timing, tão indispensável ao riso, dilui-se justamente porque a trama não se constrói com firmeza suficiente para sustentá-lo. É por isso que talentos como Milton Gonçalves, Selton Mello e, sim, Grazi Massafera (que embora esteja visivelmente em processo de amadurecimento se mostra com brilho suficiente para surgir como promessa de boa atriz, nem que seja pelo extraordinário carisma que carrega), não funcionam dentro da trama.

Agrava esse quadro a presença inteiramente deslocada de alguns personagens, que não apenas se apresentam completamente fora de contexto, num paralelo absolutamente desconectado do todo, como também não criam qualquer situação digna de riso ou escracho. É o caso dos personagens de Preta Gil e Milhem Cortaz. Ela, dona de uma funerária quase falida; ele, seu funcionário. Suas inserções na trama não acrescentam nada ao enredo. Eles surgem e desaparecem do filme sem qualquer explicação e sem que qualquer de suas ações influam no desenrolar dos fatos. Há também as secretárias da seguradora de fundo de quintal de Wanderley. Duas personagens que estão ali como tentativa de um humor arriscado por brincar com aspectos físicos. Um humor que quando não funciona pode caminhar para algo ofensivo. Não chega a ser o caso em Billi Pig, mas o risco está ali, latente.


Mesmo com toda essa engrenagem funcionando mal, com peças girando em falso, o filme apresenta alguns lampejos que, se explorados melhor, poderiam salvá-lo da falta de graça. É onde faltou enfiar o pé na jaca e assumir o nonsense total. Alguns desses lampejos estão nas duas sequências de musical. Ao introduzir na narrativa o elemento inesperado, a desconexão total com o plausível, ao menos se tem a chance de justificar todas as coisas entregando-se a uma anarquia verdadeira e plena. Com mais números musicais, embora estes serviriam apenas como muleta para manter de pé uma trama sem sustentação, haveria uma saída agradável, divertida e sempre aceitavelmente desorientadora. Daí se extrairia, provavelmente, alguma graça pontual no decorrer do filme e também se abririam novas possibilidades para que a colagem de mais elementos funcionassem em favor do riso. Como está, Billi Pig soa disfuncional demais. Recortes mal tramados de situações cuja possibilidade do riso se dilui numa tentativa de escracho que nunca se realiza inteiramente.
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José Eduardo Belmonte
Brasil, 2012
98 min.

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