terça-feira, janeiro 10, 2012

Tomboy



Tomboy
Céline Sciamma
França, 2011
84 min

O florescer da sexualidade na juventude é a temática que se repete em mais um filme da jovem diretora francesa Céline Sciamma.

Seu primeiro longa, Lírios d’água, de 2007, tratava do desejo, nascido sorrateiro e desconfiado, entre três garotas adolescentes.

Esse brotar da sexualidade está de volta em Tomboy, seu terceiro filme. Assim como Lírios d’água, a trama se sustenta na delicadeza e ingenuidade das descobertas juvenis.

Laure (Zoé Héran) acaba de se mudar com seus pais para um condomínio nos arredores de Paris. Com 10 anos de idade, cabelos curtos, feições duras e corpo franzino ela mais parece um garoto.

Logo conhece Lisa (Jeanne Disson), menina da mesma idade que também mora no condomínio. Mas ao perceber que foi confundida com um garoto, Laure não desmente e se apresenta como Michaël.

É dessa forma que Lisa a apresenta aos garotos da vizinhança, com quem Laure passa a conviver e brincar se passando por menino.

Na convivência diária, Lisa passa a se sentir atraída por Michaël, sem suspeitar que ele, na verdade, é ela.

O sentimento é correspondido, desdobrando-se entre o desejo e a inocência, construído com a delicadeza própria do fim da infância e começo da vida adolescente.

Ao conduzir a trama, a diretora acerta em não se perder na tentativa de explicar ou entender o que move Laure. Está ali uma natureza, uma sexualidade despertada. Que pode ser definitiva ou não.

Dentro do esforço de Laure em manter seu segredo guardado de seus pais e de seus novos amigos, está grande parte da inocência de seu gesto. É frágil sua farsa, uma vez que quando as aulas começarem todos irão para a mesma escola e a verdade emergirá.

É justamente essa doce ingenuidade, essa frágil mentira (que pode, claro, ser de fato o princípio de uma íntima verdade), o que faz de Tomboy uma suave, mas também vívida experiência.

Ao explorar com delicadeza essa ingenuidade, suas descobertas e incertezas, aponta o despertar da sexualidade com seus espinhos e suas delícias. O medo e a vergonha fazem parte do processo. Mas não podem barra-lo.

Em um filme agridoce, Céline Sciamma demonstra sua mão delicada na condução de histórias de afloramento. Capta a essência de um momento, submerge a dúvida, transparece desejo. Faz tudo de um etéreo sentimento, que flutua na superfície de todas as descobertas.
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