Tomboy
Céline Sciamma
França, 2011
84 min

Seu primeiro longa, Lírios d’água,
de 2007, tratava do desejo, nascido sorrateiro e desconfiado, entre três
garotas adolescentes.
Esse brotar da sexualidade está de volta em Tomboy, seu terceiro filme. Assim como Lírios d’água, a trama se sustenta na delicadeza e ingenuidade das
descobertas juvenis.
Laure (Zoé Héran) acaba de se mudar com seus pais para um condomínio nos
arredores de Paris. Com 10 anos de idade, cabelos curtos, feições duras e corpo
franzino ela mais parece um garoto.
Logo conhece Lisa (Jeanne Disson), menina da mesma idade que também mora
no condomínio. Mas ao perceber que foi confundida com um garoto, Laure não
desmente e se apresenta como Michaël.

Na convivência diária, Lisa passa a se sentir atraída por Michaël, sem
suspeitar que ele, na verdade, é ela.
O sentimento é correspondido, desdobrando-se entre o desejo e a
inocência, construído com a delicadeza própria do fim da infância e começo da vida
adolescente.
Ao conduzir a trama, a diretora acerta em não se perder na tentativa de
explicar ou entender o que move Laure. Está ali uma natureza, uma sexualidade
despertada. Que pode ser definitiva ou não.
Dentro do esforço de Laure em manter seu segredo guardado de seus pais e
de seus novos amigos, está grande parte da inocência de seu gesto. É frágil sua
farsa, uma vez que quando as aulas começarem todos irão para a mesma escola e a
verdade emergirá.

Ao explorar com delicadeza essa ingenuidade, suas descobertas e
incertezas, aponta o despertar da sexualidade com seus espinhos e suas delícias.
O medo e a vergonha fazem parte do processo. Mas não podem barra-lo.
Em um filme agridoce, Céline Sciamma demonstra sua mão delicada na
condução de histórias de afloramento. Capta a essência de um momento, submerge
a dúvida, transparece desejo. Faz tudo de um etéreo sentimento, que flutua na
superfície de todas as descobertas.
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