terça-feira, maio 10, 2011

Bollywood Dream: O Sonho Bollywoodiano



Bollywood Dream: O Sonho Bollywoodiano
Beatriz Seigner
Brasil/EUA/Índia, 2010
83 min.

Quando três amigas brasileiras chegam à Índia, um oficial da alfândega lhes pergunta, em inglês, o que foram fazer no país. Uma delas responde, em português, que é uma atriz desempregada, que tem um filho, que lá eles realizam mais de 800 filmes por ano e ela quer trabalhar nesses filmes. Ao traduzir para o oficial o que a amiga acabou de dizer, uma delas resume: viemos para uma jornada espiritual.

Essa é a chave para contextualizar o filme como uma alegoria do sonho que outrora teve seu estereótipo em jovens atrizes deslumbradas do mundo inteiro que chegaram à Los Angeles, na Califórnia, em busca do sonho hollywoodiano. Mas, diferente do glamour e sofisticação do “american dream”, o que esse novo sonho trás, além da destituição previsível de todas as ilusões – e nisso em nada difere do outro -, é a realidade do estranhamento de uma cultura exótica, de um país muito pobre, de um choque cultural muito maior.

Como o próprio título insinua, o filme promete-se uma distopia alegórica dos novos tempos para o cinema e o sonho encantado do glamour, outrora personificado pelos olhos claros, pele branca e ruas limpas de uma América encantada. Massa crítica das mais promissoras, o filme dilui-se de forma decepcionante no desenrolar da trama, mais preocupado com a jornada de transformação e conscientização da realidade (e morte do sonho) das três amigas. Nenhum problema nisso, desde que a realização saísse com um mínimo de qualidade e coesão. Não é o que acontece.

O ritmo é de pouca continuidade e em nada contribui para a construção de qualquer substância. A câmera e a luz remetem ao documental direto, mas não se assentam entre a ficção e o documentário. A narrativa é frouxa, parece querer ensaiar um processo de transformação ou admissão da realidade pelos personagens, mas isso não se contempla na tela. O desfecho, por fim, muito pouco deixa de experiência ao expectador. “Bollywood Dream” parece um filme tão sem rumo quanto suas personagens.

Completa essa sensação a quase ausência de profundidade das três amigas. O pouco que se sabe de cada uma delas surge de seus telefonemas aos familiares, nos quais são revelados alguns conflitos. Muito pouco, no entanto, para a construção ou convencimento empático. Com dimensões rasas, em quase nada se distinguem entre si. Desnecessário descrevê-las, equivaleria e repetir três vezes a mesma coisa. De nada, também, contribui suas atuações. Oscilando entre a insegurança e o despreparo, arriscam improvisos que soam artificiais.

Dessa forma, Sofia (Nataly Cabanas), Luna (Lorena Lobato) e Ana (Paula Braun) apenas transitam pelo filme, emitem pistas soltas de suas motivações íntimas e culminam suas frustrações numa cena patética, improvável e inconsistente. “Bollywood Dream” é um grande sonífero, realizado de forma precária, sem alcançar sua aparente intenção. Parte de uma alegoria inteligente e interessante para desaguar num decepcionante esvaziamento de conteúdo.
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