quinta-feira, setembro 08, 2011

Larry Crowne – O Amor Está de Volta


 Larry Crowne
Tom Hanks
EUA, 2011
98 min.

Em 1996, Tom Hanks estreou na direção lançando um simpático e ingênuo filme chamado “The Wonders – O Sonho Não Acabou”. A história girava em torno de uma jovem banda que nos anos 60 começa a fazer sucesso. Entre o início da fama, com viagens e shows, os integrantes passam a conviver com o deslumbramento do sucesso e os problemas de relacionamento. Dosado com romantismo e entusiasmo juvenil, o filme não apresenta grandes atributos, sendo uma boa opção para fins de tarde de domingo com a namorada e nada mais.

Só agora, 15 anos depois, o astro volta à direção. “Larry Crowne – O Amor Está de Volta”, que estreia na próxima sexta (9), é uma comédia romântica, também simpática e ingênua, como parece ser do gosto de Tom Hanks, que atua e assina o roteiro. Porém, se na escolha da abordagem pouca coisa mudou, não se pode dizer o mesmo do tema. Enquanto no primeiro filme o diretor trata dos ímpetos da juventude em uma era dourada (os anos 60), agora ele fala da meia-idade em tempos difíceis.

Larry Crowne (Hanks) é um homem bem humorado, otimista e divorciado, entrando na meia-idade. Vivendo só, trabalha há quase dez anos em uma cadeia de supermercados. Seu entusiasmo e dedicação no trabalho já lhe renderam nove indicações a funcionário do mês. Até que é demitido. Segundo normas da empresa, todos os funcionários devem, obrigatoriamente, ter oportunidade de ascensão nos quadros internos. Mas como Larry não cursou a universidade não pode ascender a qualquer outra posição. Para que não se fira o estatuto da empresa, só resta demiti-lo. Uma situação que faria Kafka sorrir.

A única experiência anterior de Larry são os 20 anos que serviu na Marinha, como cozinheiro. Endividado e sem conseguir trabalho, inscreve-se num curso universitário comunitário. É onde conhece Mercedes (Julia Roberts), uma desmotivada professora de oratória que vive um casamento insatisfatório. Entre o entusiasmo de Larry com seu novo aprendizado e a apatia de Mercedes com sua profissão, surgirá uma afetuosa relação e a possibilidade de mudarem o rumo de suas vidas.

“Larry Crowne” é um filme sobre essas mudanças, sobre a coragem de recomeçar mesmo depois de tantas frustrações. É também sobre humildade. Toca superficialmente em temas como o agressivo mercado de trabalho e a questão da educação. Mas tudo isso são apenas pinceladas, o que importa mesmo no filme é o romance adocicado entre o casal Julia e Hanks.

Como em seu primeiro filme, Hanks trabalha a narrativa sem viradas súbitas e sem grandes embaraços na trama. A história simplesmente flui, deixando que os personagens se revelem e se descubram. Isso evita que a história caia nos clichês das comédias românticas atuais, que precisam sempre criar um grande nó para ser desatado no final (de preferência, de forma bem romântica). Essa narrativa fluida, no entanto, escorrega ao não trabalhar melhor a aproximação entre os dois personagens. Causa uma sensação de artificialidade no modo como as coisas acontecem. Um artificialismo agravado pela falta de química entre o casal.

Mas se a Tom Hanks e Julia Roberts falta química como par romântico, em ambos sobra o carisma individual. A imagem de bom moço criada por Hanks – e reforçada no filme – e o sorriso de derreter insensíveis de Julia Roberts tornam seus personagens sempre cativantes. Em “Larry Crowne” não é diferente. Por outro lado, ao requentarem personagens estereotipados de suas próprias carreiras, repetem-se sem grande entusiasmo.

São dois talentos atestados por carreiras e papéis marcantes, “oscarizados”, que neste filme se acomodam no carisma que sabem que têm, sem grande ousadia. Como se não tivessem a mesma coragem de arriscar que têm seus personagens no filme.
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