quarta-feira, fevereiro 02, 2011

A Felicidade Não Se Compra



 It’s a Wonderful Life
Frank Capra
EUA, 1946

É difícil não se emocionar diante deste filme de Frank Capra. Embora “A Felicidade Não Se Compra” siga uma fórmula de bondade e altruísmo pouco realista, o faz de forma tão convincente que não se pode escapar de suas armadilhas sentimentais. E que não se pense que sejam armadilhas baratas, feitas para corações amolecidos e chorões. São boas armadilhas, bem armadas, nas quais se cai com grande prazer.

George Bailey (James Stewart) é um homem de bom coração. Seu maior sonho é cursar uma faculdade, viajar pelo mundo, sair de sua pequena cidade. Porém, sua bondade e seu desejo de ajudar as pessoas vão sempre adiando a realização de seus sonhos. A cada oportunidade surgida, um novo obstáculo se interpõe no caminho de suas realizações. Com o passar dos anos, George se vê cada vez mais preso aos negócios sempre instáveis da empresa que herdou do pai. O tempo passou, e ele ficou.

George é na verdade um realizador de sonhos. Através da pequena construtora herdada financia casas próprias para famílias pobres, cobrando juros tão baixos que mal consegue manter a sua própria casa inteira.

Existe uma universalidade na história de “A Felicidade Não Se Compra”. O altruísmo pleno, o sacrifício dos interesses pessoais pelo dos outros reflete uma utopia humana de bondade absoluta. Essa retidão inflexível faz de George um herói da virtude. Um herói sem glórias. Desprendido de qualquer ganância, todo seu esforço está sempre voltado para a realização do sonho alheio. Já seus próprios sonhos vão ficando pelo caminho, despedaçados pouco a pouco.

Quando um incidente parece que finalmente irá colocar tudo a perder, quando a vida se abre diante de seus olhos quase que maléfica e ingrata, George pensa no pior. E mesmo a decisão de por fim à própria vida preserva seu altruísmo como força motriz do desespero. Surge, então, um anjo em sua vida. E este anjo mostrará a ele o quanto sua vida significa, não apenas para sua família, mas para todas as pessoas que passaram por ela e a quem ele ajudou.

Num final inflado de um espírito de gratidão rara, o filme se encerra com a alegria e as lágrimas inevitáveis. Em uma conclusão que poderia facilmente soar artificial, tudo é trabalhado de forma tão azeitada que é difícil não embarcar no sentimento que emana do filme. Isso porque tudo no filme é trabalhado de forma elegante, sem apelações.

O segredo para que “A Felicidade Não Se Compra” seja universal, e preserve ao longo do tempo sua força de esperança e fé no ser humano, está na entrega com que tudo é feito. Um entrega que passa ao espectador a certeza de quem acredita. De que a bondade é possível e habita sempre o coração dos homens.

Não importa quantas reprises a TV exiba, não importa quantas décadas o atravessem. “A Felicidade Não Se Compra” merecerá sempre os olhos marejados de seus espectadores. Por muitas gerações.
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