L’illusionniste
Sylvain Chomet
Reino Unido/França, 2010

“O Mágico” nasce de um pedido de perdão. Uma carta, que se desdobrou em uma novela e que virou roteiro e homenagem. A carta era de Jacques Tati, um dos gênios do cinema francês, dirigida à sua filha Sofie Tatischeff, a quem Tati inicialmente não assumiu como legítima. Dois anos antes de morrer, Sofie procurou o diretor da premiada animação “As Bicicletas de Bellevue”, Sylvain Chomet. Ela havia notado as sutis referências à obra de Tati na animação de Chomet. Sofie ofereceu a ele um roteiro inédito que Tati legara a ela. Desse roteiro saiu “O Mágico”.
O filme é uma homenagem ao cinema de Tati e também uma linda animação sobre a solidão, a generosidade, a esperança e a beleza em se viver sem tristeza, mesmo quando se tem tudo para ser triste. Não é uma comédia, mas sim um drama repleto de poesia. É uma obra de afeto puro, em que Tati se faz representado com a fidelidade e o espírito preservados de forma essencial e delicada. Uma fidelidade que assombra pelo gestual inconfundível mimetizado pela animação, na qual se tem a oportunidade de rever os gestos que fizeram de Tati um inesquecível artífice.
Temos então esse mágico, já com certa idade, vivendo a indiferença cada vez maior do público com a mágica, que já não desperta mais interesse. Temos nessa “indiferença” do público um retorno à crítica de Tati com o moderno e o vazio que ele pode trazer. O que faz o público vibrar é a banda de rock, cuja música não se entende e cuja performance no palco beira a insanidade, num espetáculo desprovido de qualquer estética ou encantamento.
Perambulando de teatro em teatro, o mágico compreende a decadência de um tipo de espetáculo cujo espaço se perdeu em troca do bizarro. Em seu caminho cruza com outros artistas cuja decadência se iguala. Os acrobatas que ganham a vida pintando cartazes, o ventríloquo que se entrega à bebida e cuja única companhia é o boneco falante, o palhaço esquecido que prepara o suicídio. Mas apesar do cansaço, o mágico não desanima. Seja pela sobrevivência ou pelo simples ideal de seguir fazendo o que sabe.
Um dia, ao se apresentar em uma aldeia, conhece Alice, uma menina humilde que se encanta com seus números de mágica, acreditando que ela realmente acontece. Ela o acompanha de volta a cidade, fugida de sua vida pobre no vilarejo. Para o mágico, o encanto que a mágica proporciona a Alice representa seu último laço com um público do passado. Mas também seu humanismo paternal. Por isso ele a adota e faz questão de preservar o encanto da magia nessa relação inocente e generosa.
O tempo

Por isso o mágico, na animação de Chomet, simboliza o último de uma estirpe. De feitores de sonhos, de ilusões que inevitavelmente se perderão um dia. Essa perda das ilusões não existe (ou não deveria existir) para que a vida destrua os sonhos, mas para que eles continuem se renovando sob novas formas de sonhar e de crescer.
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