domingo, dezembro 19, 2010

O Sinal das Coisas

José Eduardo Belmonte
É sempre lamentável que um filme de José Eduardo Belmonte esteja em cartaz em apenas uma sala e com apenas dois horários. No caso em questão, do filme “Meu Mundo em Perigo”, há ainda particularidades. Foi realizado em 2007, mas só agora chega ao cinema, depois de arrebanhar alguns prêmios em festivais. Um outro filme de Belmonte, Se Nada Mais der Certo, que foi realizado depois, já estreou e saiu de cartaz.

A Concepção
Belmonte diz que ao colocar Meu Mundo em Perigo em cartaz, ainda que em São Paulo de maneira tão escassa, resolve uma frustração que ele tinha, pois é o filme seu de que mais gosta. Demorou tanto a conseguir distribuição pois era considerado um filme melancólico demais.

O sinal das coisas está no filme que Belmonte começa a rodar em janeiro. Diferente de sua filmografia de até então, o diretor prepara uma comédia popular, como ele mesmo define. Com Grazzi Massafera e Selton Mello no elenco, parece que o novo filme de Belmonte fugirá do universo opressor e angustiante que definiu seus filmes até agora. O diretor afirma em entrevistas que sente agora uma necessidade de se comunicar com o grande público.

Meu Mundo em Perigo
Acho que cabe sempre uma reflexão quando um diretor de qualidade inquestionável, com um trabalho consistente do ponto de vista da inteligência e da qualidade cinematográfica se volta para algo popular. Acho que vale uma discussão.


Acho positivo que se busque alcançar mais público, abrindo mão de temas considerados “difíceis” - não por um hermetismo, mas por abordarem questões espinhosas e refratárias ao mero entretenimento. Já é clichê dizer que o grande público não quer ir ao cinema para pensar. Por isso, muitos filmes bons conseguem público tão mínimo. Enquanto filmes bem ruins, alcançam, às vezes, bilheterias estrondosas.

Se Nada Mais der Certo
Para o artista, seja ele de cinema ou de outras artes, sempre fica o impasse. Manter-se fiel a um ideário estético, temático e formal, ou abrir mão de alguns elementos e “facilitar” as coisas em busca de bilheteria e de um maior alcance?


Sou a favor de que se faça o que quiser, desde que não se entregue de todo ao sistema e se esvazie uma obra com a boçalidade, o banal e o inútil. Não creio que Belmonte sucumbirá. Mas dá sempre um certo frio na barriga. Sei que cineasta também tem conta pra pagar, por isso sempre é difícil julgar. Mas não dá pra esquecer que mesmo comédias simples podem trazer grandes temas á tona. É esperar para ver.
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