sábado, abril 30, 2011

Equívoco e Desconforto Crítico – Parte 2: Desconforto




Parte 2 – Desconforto

A reflexão e crítica da primeira parte desse texto, fez com que eu pensasse em outro aspecto dessa questão. Na verdade, alimentou e deu subsídio a uma velha impressão minha de que muitos críticos de cinema têm sofrido ou escorregado na hora de avaliar a enxurrada de adaptações das HQs que chegam às telas.

Como a grande maioria dos críticos nunca foi adepta da leitura do gênero conhecido como arte sequencial, muitas vezes percebo que se sentem desconfortáveis em seus textos sobre as adaptações que chegam aos cinemas. Como essa onda de adaptações parece ser um filão ainda em plena força (basta ver as estreias e produções que estão para chegar), creio que seja um assunto relevante esse desconhecimento de parte da crítica.

Nada de culpa. Não há nenhum demérito nisso. Qualquer filme pode, sim, ser entendido exclusivamente como cinema, independente de se conhecer ou não a origem de sua adaptação. Mas é inegável que ao conhecê-la enriquece-se o texto, a análise e a visão sobre a obra cinematográfica. O resultado é uma melhor dimensão das coisas, das nuances e referências. Função jornalística primordial: informar bem o leitor.

Para comprovar o quanto isso pode ser importante, basta ver a diferença gritante entre as críticas de filmes adaptados de grandes obras da literatura e as críticas das adaptações de quadrinhos. Sendo a classe dos críticos muito dada ao intelectualismo literário (não necessariamente como regra, infelizmente), no caso de críticas sobre adaptações de livros esbanjam-se comparações, valorizações de similaridade ou fidelidade ao original, distinção de tramas e subtramas, permanente diálogo entre o que se lê no livro com o que se vê no filme.

Quando a adaptação é de um personagem dos Quadrinhos, são poucos os capazes de enriquecerem seus textos de forma tão completa. A diferença, óbvia, é que para conhecer um livro, basta lê-lo em algumas horas ou dias. Mas para conhecer um personagem de HQ leva-se anos acompanhando sua trajetória ou meses para se conseguir ler todas as publicações relevantes de sua mitologia.

Por outro lado, talvez, nem tanto. Possivelmente exista simplesmente um preconceito da “grande crítica” com o que chamam de “gibis” e poucos se deem ao trabalho de dedicar algumas horas em pesquisa sobre eles e seus personagens. 

Nesse caso, quem age assim, padece de uma arrogância que não condiz com o trabalho informativo. Quando se acredita que não precisa aprender mais sobre alguma coisa apenas por considerá-la menor, cai-se sempre no monocórdio, na fórmula desgastada, no requentado sem gosto. Perde o profissional, ao empobrecer (ou abrir mão de enriquecer) o conteúdo que produz; perde o leitor, privado de frescas e melhor dimensionadas informações.

No caso do cinema e das adaptações de histórias em quadrinhos, talvez falte humildade, talvez falte tempo (não se pode esquecer de como o jornalismo, em tempo de internet, vem tendo sua qualidade sucumbida pelo imediatismo). Nessas horas, é sempre bom ficar atento à internet e aos garotos de sites que falam tanto de cinema como de HQs, games e demais entretenimentos. Talvez seja de lá que saiam as melhores sacadas e as melhores críticas quando o assunto for quadrinhos e cinema.
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