sábado, dezembro 17, 2011

Tudo Pelo Poder


 

The Ides of March
George Clooney
EUA, 2011
101 min.

Com um elenco de primeiro time - e não um primeiro time de celebridades, mas de talento - George Clooney volta à direção em um filme contundente sobre o caráter da lealdade e a dissolução da integridade. Conhecido por seu engajamento político, Clooney mergulha nos bastidores de uma campanha eleitoral e nos apresenta um retrato pessimista das entranhas da política e dos desvios a que o feroz jogo pelo poder é capaz de levar.

Dentro do partido Democrata, durante a campanha pelas eleições primárias (nas quais se define quem do partido será nomeado candidato a presidente), a disputa está polarizada entre dois nomes. Um deles é o governador Morris (George Clooney), político exemplar e íntegro, conhecido por sua determinação em seguir seus princípios. É ele quem lidera as pesquisas, ainda que com uma vantagem pequena.

O chefe da campanha de Morris é Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), um experiente estrategista que preza, acima de tudo, pela lealdade. Seu braço direito é o brilhante assessor de imprensa Stephen Meyers (Ryan Gosling), um jovem talento que acredita com veemência na sinceridade de Morris e em sua competência para governar e mudar o país.

Na coordenação da campanha adversária está o manipulador Tom Duffy (Paul Giamatti). É ele quem tentará desfalcar o time adversário atraindo para seu lado o jovem Meyers. Para isso, usará de lisonjas e de informações sigilosas que podem mudar o rumo dos acontecimentos. Será o encontro furtivo entre Duffy e Meyers que desencadeará uma série de acontecimentos que revelarão o tamanho da perfídia do jogo político e a inevitável deterioração da integridade e do caráter.

Baseado na peça Farragut North, de Beau Willimon, Tudo Pelo Poder consegue se despir do cinismo que frequentemente contamina filmes sobre os bastidores da política. É uma obra franca e alcança essa franqueza por seu ritmo afinado, construído na fluência de uma montagem eficiente. Sua fluidez de thriller não diminui sua aderência de reflexão sobre a condição humana. Em especial quando movida pela vingança, pela vaidade e pelo poder.

A articulação clara de seu roteiro reserva surpresas, mas não manipulações do público. Se não chega a ser cru na ilustração da queda, tampouco é condescendente com a natureza medonha da corrupção do caráter. Trata do completo esfacelamento dos princípios, do tipo de queda de quem ascende erguido pela coerção, mas também pela decepção atroz diante da constatação do meio, sua realidade mais cristalina e a mancha que não se pode mais limpar.
 
Através da política, Clooney filma o homem. Suas articulações de bastidores eleitorais não são diferentes do cotidiano mundano. O reflexo é cristalino. A diferença é que ali está emoldurado pela ilusão de ser político; a ilusão de algo inerente e exclusivo das entranhas desse jogo. Mas não é. Se olharmos bem, também estamos refletidos nela.
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