segunda-feira, novembro 08, 2010

Vespa

34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
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Vespa
Diana Groó
Hungria, 2010
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Neste road movie húngaro, a diretora Diana Groó conta a história de Lali, um jovem cigano de 12 anos que viaja sozinho para a capital Budapeste. O motivo de sua viagem é um cupom encontrado numa embalagem de chocolate que o torna ganhador de uma moto vespa.

Groó disse na apresentação do filme que através dessa história quis contar um pouco do drama do povo cigano em seu país. Mas preferiu faze-lo através de uma história de inocência e perseverança ficcional, ao invés de um documentário.

Vespa mostra o jovem Lali em uma jornada que tem como pretexto a retirada do prêmio. Mas o que o menino busca na verdade é seu pai, do qual sabe apenas que trabalha em construções na cidade de Budapeste. Essa busca pela paternidade não deixa de ser uma alegoria da busca de identidade. Uma forma de dizer que a condição de cigano não o integra totalmente no mundo e encontrar o pai é uma forma de se sentir mais completo.

Nesse intricando jogo de sentidos, o jovem rapaz não renega sua origem e seu povo, mas não deixa de ver o quanto isso o estigmatiza diante do mundo. A cidade grande não é hospitaleira para seu povo, como não é para ele. Essa noção de rejeição e sua vontade de anulá-la é o que intensifica sua busca pelo pai.

Após seguidas frustrações, Lali conhece um artista de rua. O artista, comovido com a determinação do rapaz em conseguir o que quer, passa a ajudá-lo. À partir daí se inicia uma relação afetuosa, de cumplicidade e ajuda mútua. Os contornos paternais dessa relação são inevitáveis.

Por um tempo, Lali se sentirá como quem encontrou, por um via torta, sua identidade. Tem ali sua figura exemplar, espelho de si mesmo, rejeitado pela sociedade, tolerado como mero passatempo de transeuntes. Mas no destino cigano de Lali nada é certo, nem fácil.

As desventuras e decepções desse perseverante jovem prosseguirão no retorno para casa. Ele regressa não como um Ulisses vitorioso à Ìtaca, mas como o filho desolado, cuja jornada resultou numa descoberta triste de si mesmo e de seu destino sem horizonte. Na hora de dormir, ao lado da mãe, recolhe sua tristeza. Regressa mais desiludido, menos criança, depois de provar um pouco do que o mundo lhe reserva: preconceito e desilusões.
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