quinta-feira, setembro 05, 2013

Las Acacias


Depois de quase dois anos circulando em festivais e acumulando prêmios - com destaque para o "Caméra D'or" do Festival de Cannes de 2011 -, só agora o argentino Las Acacias estreia por aqui. 

Passado quase todo na cabine de um caminhão, o filme parte de uma convivência forçada calcada no estranhamento e na dureza de vidas amargas. Entre elas, um bebê recém-nascido, uma estrada a ser percorrida e um fronteira a ser transposta.

Rubén (Germán de Silva) é um caminhoneiro que transporta madeira do Paraguai para a Argentina. Jacinta (Hebe Duarte) e sua filha de cinco meses, Anahí (Nayra Calle Mamani), precisam chegar a Buenos Aires. Por meio de um combinado, o caminhoneiro se encarregará de levá-las até a capital argentina. 

Entre eles, a rispidez será a primeira forma de contato. Uma rispidez que parte de Rubén, a quem não agrada viajar acompanhado de uma estranha, muito menos com uma criança pequena e cheia de necessidades como alimentação e troca de fraldas.

Indiferente ao drama de Jacinta - abandonada pelo pai da criança, tentando escapar da pobreza em busca de uma promessa de trabalho no país vizinho - o caminhoneiro não se preocupa em disfarçar o transtorno que vê na presença de mãe e filha na sua travessia de trabalho.

Homem calado, ressecado pela vida e pela solidão da estrada, Rubén parece ser incapaz de estender a mão, de expressar qualquer gesto simpático. No rosto, o homem áspero carrega não apenas os vincos e as marcas da vida, mas também, mal ocultos, ressentimentos de relações incompletas.

À Jacinta cabe suportar a viagem, conter as lágrimas, insistir na convicção (aqui muito mais uma passagem para a aceitação) de que sua filha não tem pai, de que ambas estão sós para enfrentar o tanto que a vida ainda reserva. É como se para ela a árida estrada e a áspera indiferença fossem um prenúncio do mundo que virá, agora que é mãe só.
  
A viagem, contudo, dentro da metáfora universal de se percorrer um caminho, transforma a todos. Mas em Las Acacias não há espaço para filosofias de transformação. O que se tem é a estrada, quase nunca mostrada, e dentro da cabine o universo dos viajantes, confinados ao espaço.

Será dentro desse espaço que surgirão ensaios de aproximação, silêncios regidos pelo motor do caminhão, como se a cada marcha trocada surgisse um convite inevitável para se transpor a barreira que os separam.

O diretor Pablo Giorgelli aposta no minimalismo para desenhar com traços fortes o amargo de seus personagens, da tristeza à solidão. Faz da boleia do caminhão uma atmosfera densa do que há de trágico e duro na vida de seus personagens. E a partir desses traços fortes de aspereza e abandono, esboça com sutileza o que há de humano ocupando os espaços das palavras que não são ditas.

Sem adereços de perfumaria, Las Acacias constrói uma fábula seca e crua que nasce a partir do silêncio. É esse espaço de gestos entre as palavras, de sorrisos esboçados entre rostos aflitos e de afeto que brota no ressecado solo de vidas difíceis que o ser humano surge inesperado, mas também inevitável.

Como viagem de transformação, o caminho desse filme desmonta a aspereza para fazer dela algo um pouco mais doce e delicado, sem que para isso precise apelar para sentimentalismos banais.
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Las Acacias
Pablo Giorgelli
Argentina/Espanha, 2011
82 min.

Trailer

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