terça-feira, novembro 22, 2011

Apenas o Fim


Apenas o Fim, trabalho de estreia do diretor Matheus de Souza, é um filme sobre o fim de um relacionamento, e nada mais. Por isso, talvez, seja tão bom, já que dessa simplicidade de ruptura nasce uma iluminada viagem para dentro daquilo que se perde quando a vida acontece. Algo intangível e inestimável, que pode ser chamado de sonho, esperança, frescor da juventude, otimismo ou ingenuidade. Talvez a soma de todas essas coisas e algo mais, algo ainda sem definição e cuja perda não representa o fim, mas a continuidade.

Numa manhã cotidiana, Tom (Gregório Duvivier) encontra sua namorada, interpretada por Erika Mader, na faculdade onde estudam. Ela diz que está indo embora. Ele diz que tudo bem, que está atrasado para uma prova e depois telefona para ela em casa. Mas logo ele percebe que ela quer dizer outra coisa. Que está indo embora para sempre, para outro lugar e que eles só têm mais uma hora juntos.

No restante de sua duração, Apenas o Fim se alterna entre fragmentos da conversa final do casal e fragmentos de suas lembranças juntos. De pedaço em pedaço, vai-se construindo um colorido mosaico de memória e conversas aparentemente irrelevantes, mas que revelam na sua falsa banalidade um universo rico de sentimentos, rico de significados oblíquos, que são aqueles que compõem a memória e a partir dela se reconhece as paixões, os desenganos e os sonhos da vida, perdidos ou vindouros.

Há em Apenas o Fim e seus diálogos uma irresponsabilidade repleta de oxigênio, carregada de uma graça que só a certeza do futuro pode criar. O tipo de certeza do futuro que só é reservada aos jovens. Pois é justamente esse frescor colorido, salpicado pela dor da separação e amenizado pela certeza do futuro, o grande achado do filme.

Não que seja original. Há na sua construção uma influência clara do filme Antes do Amanhecer (1995): os planos sequência, o casal caminhando e conversando, os diálogos frívolos surgidos em meio a uma conversa mais séria, a urgência de um tempo juntos que está por terminar.

Mas ao contrário do clássico dos anos 90, esta versão nacional trata de algo que está terminando, não de um tateio por algo que pode começar. Isso faz toda diferença, uma vez que a memória, inserida em esquetes durante a despedida, conta muito na construção de uma relação, mas conta principalmente na caracterização do descompromisso.

É o descompromisso, a certeza do incerto que vem adiante, somado a uma afinada sintonia entre os atores e bons diálogos, que faz do filme uma agradável experiência. Embora carreguem o peso inevitável da gravidade de uma separação, esse peso jamais adquire o tamanho de uma tragédia ou de um drama arrastado. Trata-se somente de uma despedida meio amarga, amenizada, inadvertidamente, pela certeza do porvir. Trata-se apenas do fim. Daquela dor meio baça entre a perda e a renovação, entre o olhar para trás com o coração apertado e caminhar para frente com o peito aberto.
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Apenas o Fim
Matheus de Souza
Brasil, 2008
80 min.

Trailer

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