segunda-feira, dezembro 12, 2011

Adeus, Primeiro Amor



 

Un amour de jeunesse
Mia Hansen-Løve
França, 2010
110 min.

A diretora francesa Mia Hansen-Løve não nega a forte influência que a Nouvelle Vague (movimento renovador do cinema francês, surgido nos anos 60) tem em sua obra. Nem poderia. Os traços dessa influência são claros em seus filmes. Adeus, Primeiro Amor, o mais recente, confirma isso. Mas não com uma submissão mecânica, e sim com uma fluência delicada muito própria, atual e sensível.

O filme se passa em Paris. Camille (Lola Créton) tem 15 anos e namora Sullivan (Sebastian Urzendowsky), de 19. Ela experimenta dessa relação o amor incontido, cheio de um arrebate incondicional. Como é natural, aos 15 se crê que todo sentimento é eterno e que sem o objeto desse amor não se pode viver. Sullivan também ama Camille, mas ao contrário dela acredita que precisa amadurecer, conhecer o mundo, vivenciar experiências. Para isso ele pretende viajar por dez meses pela América do Sul, junto com dois amigos.

Sem compreender ou aceitar, Camille resiste e se afunda em uma melancolia que ela mesma assume como parte de sua personalidade. Antes dele partir, se despedem longamente em tardes de amor e finais de semana na casa de campo da família dela. Com o ressentido da perda iminente, Camille oscila entre o drama da recusa e o amor imenso. Depois que Sullivan parte, só resta a ela as cartas, enviadas sempre de lugares diferentes. Aos poucos, as cartas vão rareando, até cessarem totalmente.

Os anos passam e Camille sobrevive à depressão e à tristeza ao se dedicar ao estudo da arquitetura. Ela considera a beleza desse trabalho o estímulo que a fez encontrar algo de alegre em sua vida. Não a felicidade - sempre distante de seu rosto melancólico sem sorriso -, mas a poesia de um sentimento que pode ser traduzido nas formas e disposições de objetos. No caso de Camille, reflexo de sua introspecção, que afasta e rejeita o passado, como ficará sempre marcado em seus projetos.

Surge então Lorenz (Magne Håvard Brekke), professor de arquitetura. De origem norueguesa, ele se apresenta para a primeira aula com uma provocação sobre o “lume” como elemento de arranjo interior. Instiga a sala a definir seu significado e função. Coloca-o não apenas como uma fonte para iluminar um ambiente, mas também para moldá-lo a partir da escuridão; em favor de um sentimento, em favor de uma memória. Será esse o primeiro encantamento de Camille com o professor, com quem adiante passará a viver. Até que Sullinvan reaparece.

Composta de largos silêncios, a narrativa de Adeus, Primeiro Amor desliza com uma textura sóbria e consistente. Seus silêncios, no entanto, não significam contemplação ou estagnação. São antes o reflexo da passagem do tempo em amplitudes diversas.

Modulam essa amplitude - com uma intensidade suave, mas precisa - canções como Volver aos 17 e Gracias a La Vida, na voz da cantora chilena Violeta Parra. Elas fazem parte da trilha sonora, que em sua eclética mistura – inclui Frank Sinatra e Johnny Flynn – traduz sentimentos de forma envolvente.

Em sua passagem pela vida, pelo amor, pela perda; com a partida e o regresso, o renascimento e o desapego, Adeus, Primeiro Amor toca em um sentido particular do sentimento. É represa em alguns momentos e água livre noutros. Simples, linear. Preenche lacunas com quietude e esta quietude pode até cansar em alguns momentos. Contudo, carrega na sua narrativa um frescor, uma energia muito própria.

É melancólico, não melodramático; triste, não pesaroso. Faz em sua construção uma prece de graças á vida; tem na sua luminosidade quieta um regresso aos 17; entrega em seu final a plenitude delicada de quem compreende que a metáfora da vida é um rio. Entre as margens do rio, tudo é possível, mas nada permanece.
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