quarta-feira, janeiro 11, 2012

As Aventuras de Tintim


 


The Adventures of Tintin
Steven Spielberg
EUA/Nova Zelândia, 2011
107 min.

Steven Spielberg não é mais o mesmo. Certo? Errado. Ele continua fazendo seus filmes da mesma maneira, com o mesmo apuro técnico. Afinal, ele é bom no que faz. O problema é que, bom ou não, ele continua fazendo seus filmes da mesma maneira.

Ao se repetir, Spielberg torna banal aquilo que fez dele um dos grandes nomes do cinema americano: sua capacidade de contar histórias através da grande aventura. Em As Aventuras de Tintim, não apenas se nota a banalização desta tal grande aventura, como se percebe também a ausência de uma grande história. E, no caso específico do repórter Tintim, o desperdício de um grande personagem.

Tintim surgiu nas histórias em quadrinhos em 1929, criado pelo artista belga Hergé, pseudônimo de George Remis (1907-1983). Trata-se de um jovem repórter aventureiro que, acompanhado sempre por seu cãozinho Milú, se envolve em diversas aventuras. As histórias de Tintim se tornaram muito populares na França e no mundo ao longo das décadas seguintes à sua criação. No imaginário europeu, principalmente, Tintim e suas aventuras ocupam lugar de destaque.

A adaptação de Spielberg é uma animação com atores de verdade. O diretor optou pela técnica do motion capture, tecnologia que permite captar com precisão os movimentos e as expressões faciais de atores reais e depois transpô-las para um personagem digital. É a mesma técnica que foi usada para criar o personagem Gollun de O Senhor dos Anéis e, mais recentemente, o macaco Caesar, de Planeta dos Macacos: A Origem. Não por acaso, ambos interpretados por Andy Serkys, ator que vem se especializando em criar personagens a partir desta técnica e que também está no filme, no papel do Capitão Haddock.

A trama da fita é baseada no álbum O Segredo do Licorne, publicado originalmente em 1943. Nela, Tintim se envolve por acaso no mistério de um navio desaparecido há muitos anos e enfrenta bandidos que tentam encontrá-lo a qualquer preço. Durante a investigação do mistério, alguns personagens clássicos do universo criado por Hergé vão surgindo, para alegria dos fãs. O destaque, naturalmente, fica com o Capitão Haddock, com quem o jovem repórter divide a aventura.

Não há muito mais o que dizer da trama. Em pouco tempo Tintim estará completamente absorvido pela ação quase incessante do filme. São sequências intermináveis, de um cinema hiperativo, com pouco espaço para respiros. É essa ação destemperada que prejudica o filme e banaliza o personagem. É onde se tem a repetição, em estilo e cadência, de outros filmes do diretor, como a série Indiana Jones, referência natural.

No universo do personagem dos quadrinhos é notável sua mobilidade intensa. Não raro, para quem já leu suas histórias, a imagem mais recorrente que se tem é dele correndo, em constante movimento. Mas Spielberg transformou isso em um suprafôlego que mata qualquer charme e encanto que o personagem traga. Mesmo a qualidade da ação, embora bem coordenada e pensada, não acrescenta nada de novo, não vai além de uma sucessão de artifícios, malabarismos e peripécias comuns do cinema de aventura.

A ausência de um espaço para o desenvolvimento da história, de um intervalo razoável para o assentamento do personagem e suas características, além de uma continuidade estendida além do razoável das cenas de ação, mais desconectam do que ligam. Não é difícil se desinteressar por essa ação durante seu andamento, querendo que ela termine para que a história siga adiante.

As Aventuras de Tintim pode agradar ao público infantil, ávido por movimento, embora talvez até mesmo esse possa se cansar do exagero. Mas é um filme falho em criar encanto e aproximação, como o diretor já fez com melhor mão em outras ocasiões. É certo que o cinema mudou muito desde E.T. O Extraterrestre (1982), mas uma boa história sempre pode ser contada através do cinema, não importa a época. Basta que para isso exista equilíbrio e bom senso para distinguir o que é história e o que é apenas distração.
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