quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Tão Forte e Tão Perto



Extremely Loud & Incredibly Close
Stephen Daldry
EUA, 2011
129 min.

No novo trabalho do diretor Stephen Daldry, a sensação que se tem é de que há um vidro separando o espectador das emoções que o filme tenta passar. Você as vê, mas não as sente. Daldry sempre foi muito feliz em transpor emoções da tela para o público; das intangíveis como em As Horas, das desconcertantes como em O Leitor, das intrínsecas como em Billy Elliot. Agora, no entanto, falha ao criar uma fábula que, por meio da memoração dos ataques de 11 de setembro, quer comover através de emoções derivativas da perda.

Oskar Shell (Thomas Horn) tem nove anos de idade e perdeu o pai, que estava em um dos prédios do World Trade Center na manhã dos ataques. Um ano após a tragédia, Oskar encontra no armário de seu pai uma misteriosa chave. No envelope onde ela se encontrava, apenas o nome Black. Começa aí a jornada de Oskar em busca da fechadura que esta chave abre, uma forma que ele encontra de manter acesa em sua vida a memória do pai.

Mas Oskar não é um garoto comum. Ele sofre de algumas fobias, assim como tem dificuldade em se relacionar com as pessoas. Para ajudá-lo a superar estes problemas de socialização, seu pai, interpretado por Tom Hanks, um cientista e pesquisador amador que trabalha como joalheiro, costumava criar uma série de desafios para o filho. 

Esses desafios, chamados de Expedições de Reconhecimento, eram na verdade estímulos para que Oskar superasse seus medos e implicavam em solucionar mistérios fazendo investigações, buscando objetos escondidos ou resolvendo enigmas que dependiam de idas a algumas partes da cidade.

É com esse espírito que o jovem passa a visitar pessoas em Nova York com o sobrenome de Black, tentando descobrir se elas conheciam seu pai e de onde é a chave misteriosa. Ao mesmo tempo, ele sente o distanciamento da mãe (interpretada por Sandra Bullock), que parece não ter superado ainda a perda do marido. Em sua jornada, Oskar monta um diário com fotos das pessoas que vai conhecendo, criando um pequeno painel de diversidade, tipos de pessoas e suas histórias.

Baseado no romance Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, de Jonathan Safran Foer, o filme de Daldry muitas vezes parece perdido entre um afetivo relato do trauma pós-11 de setembro e uma fábula sobre memória, perda e superação. No meio disso, um tipo de homenagem à cidade de Nova York e às pessoas que fazem sua história. O resultado é um filme artificial, cujas peças encaixam mal, criando um ruído indistinto e sem harmonia, tal qual o irritante pandeiro que Oskar leva sempre consigo.

Por motivos óbvios, como seres humanos passíveis de sentimentos que somos, podemos ver cada uma das emoções que o filme quer retratar. Mas a conexão de empatia, tão indispensável à uma experiência de catarse, simplesmente não acontece. Ao optar por construir sua narrativa com algumas quebras de ritmos, inserções maneiristas e personagens de função oca, o diretor desconstrói sua história com uma espécie de mecanização, afastando assim boa parte do sentimento.

Para o espectador, a sensação que pode advir disso é a de estar vendo peixes num aquário. Há simpatia e afeição, mas nunca uma transferência sólida que funcione como compartilhamento de emoções. Vemos à distância uma história que tem alguma beleza e sensibilidade, mas cujo grau de artificialismo torna incapaz a quebra da vidraça que nos separa de sua experiência emotiva.
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