quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Caminho para o Nada



Road to Nowhere
Monte Hellman
EUA, 2010
121 min.

Caminho para o Nada é um filme que só se explica – ao menos parcialmente – no último plano. É quando a câmera se aproxima de uma imagem pregada á parede, criando um efeito de ampliação, enquanto já surgem os primeiros créditos finais. Também nos créditos há um tipo de revelação a nos trazer de volta para a camada inicial, esquecida durante um filme que se desdobra dentro de outro filme. Compreendemos então a armadilha do simulacro e a imprecisão entre verdade e ficção. Mas será, ainda assim, uma compreensão temerosa, inexata.

É fácil perder-se no caminho que o filme quer nos levar. A alternância embaralhada dos limites temporais entre o fictício e o real da narrativa é proposital. Sua trama nasce de um filme que está sendo rodado numa pequena cidade do interior dos EUA. O filme que está sendo feito busca reconstituir uma história real acontecida na localidade e relatada pelo blog de uma jornalista residente na cidade. A história envolve assassinato, simulação de suicídio, fraude nos cofres públicos e um escandaloso romance entre duas figuras conhecidas do lugar.

O diretor desse filme é Mitchell Haven (Tygh Runyan), que em busca de uma atriz para viver a protagonista da trama encontra e se encanta pela desconhecida Laurel (Shannyn Sossamon). Ela fará o papel da mulher fatal que desencadeia os acontecimentos da trama, chamada Velma. Entre as filmagens, a obcessão do diretor pela atriz o afastará de seu foco, ao mesmo tempo que as tramas, ficcionais e supostamente verídicas, se misturam na narrativa, através de outros personagens misteriosos que vão surgindo.

Como num conhecido jogo de espelhos, Caminho para o Nada nos aplica ilusões de ótica embaralhando suas narrativas, nos impedindo de distinguir suas camadas. Através desta estrutura o filme cria um suspense rarefeito, cuja tenuidade não nos afasta nem nos faz submergir na trama. A verdade, ou até mesmo a realidade, estão em permanente conflito com a arte que o diretor procura para seu filme. Temos aí o olhar ficcional sobre uma verdade incerta, que por trás de si oculta fatos cuja precisão se esvai por entre as camadas sobrepostas.

Em meio a tantos despistes, chega-se ao final da narrativa com suspeitas cuja solução importa menos que a artimanha de sua manutenção. Pode ser frustrante para os ávidos por segurança, mas traz na amarração final uma resposta tão ousada quanto a de Blow-Up, clássico de Antonioni de 1966. Guardadas, claro, as abissais proporções em grandeza e refinamento.

Caminho para o Nada se sai com a resposta sem resposta. Mas para entendê-la é preciso atravessar sua sinuosa e provocativa estrada. O destino final pode não existir, pode ser apenas uma procura, uma significação do nada, como já sugere seu título. Por trás desse nada talvez se esconda a indistinção entre o real e a ficção. Definir as linhas que as separam pode ser impróprio, talvez até desnecessário. A proposta encerra-se em si, no âmbito da experiência, de uma busca sem perspectiva de solução. Uma viagem que só existe dentro de si mesma, através da qual se desdobram camadas cujo único sentido é que se desdobrem camadas.
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