quinta-feira, dezembro 01, 2011

Um Dia




One Day
Lone Scherfig
EUA/Reino Unido, 2011
107 min

Desde que dormiram juntos pela primeira vez, há 18 anos, Emma (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgess) se encontram todo ano no dia 15 de julho. Eles se conheceram na manhã seguinte à festa de formatura da universidade, que cursaram juntos sem nunca terem se conhecido antes. Naquela manhã, estavam sob efeito da ressaca da festa e do ímpeto juvenil que faz do futuro páginas em branco a serem escritas com grandes realizações. Foram para a cama, mas naquele distante dia 15 de julho de 1988, literalmente, apenas dormiram.

Começava ali não um romance, mas uma amizade. Uma relação de afeto, respeito e cumplicidade. Ao longo dos anos nesta relação, os sentimentos mais intensos – e verdadeiros – estariam sempre submersos pela lealdade e pelo compromisso de se verem todos os anos no mesmo dia em que se conheceram.

Naquele tempo de juventude impetuosa, Dexter era então apenas o filho mimado de uma família rica. Bonito, charmoso, acostumado a levar para a cama as mulheres que desejava. Já Emma era tímida, vinha de família humilde e sonhava em ser escritora.

A ambos o futuro acenava com sonhos, mas cada um segundo suas possibilidades. Dexter, inicialmente sem saber ao certo o que fazer e despreocupado pelo dinheiro que nunca faltaria, acaba se tornando apresentador de um programa de TV vulgar. Emma, disposta a seguir seu sonho, encara a realidade. Para sobreviver, passa a trabalhar em subempregos. A vida difícil a afasta de suas grandes aspirações.

A passagem do tempo em Um Dia, as mudanças na vida dos personagens, são mostradas ano a ano, através do único dia que se encontram. Seus altos e baixos são percebidos pelos fragmentos desse único dia. Passam-se namoros, casamentos, filhos, perdas, realizações e frustrações. Mudam-se os cabelos, as roupas, a música, o tempo. Mas permanece a amizade, a alegria que sentem no reencontro, sempre imerso em uma tensão de desejo que escondem de si mesmos.

Precisam-se nas horas difíceis, quando telefonam e desabafam. Sabem que se amam de uma forma única, um amor construído pelos anos, mas germinado desde o primeiro dia. Temem, contudo, esse amor; assustam-se diante dele e por isso teimam em não desatá-lo.

O filme persegue esse desencontro sentimental até uma certa exaustão. Com a fragmentação da vida de ambos – no modo como são mostradas e na própria dissolução dos sonhos pretendidos – a narrativa ganha em poesia, mas perde na construção dos personagens e do sentimento. Mesmo assim é capaz de comover, graças a uma boa atuação de Hathaway.

Baseado no romance homônimo, de David Nicholls, que também assina o roteiro, Um Dia está preso à obra original. Esta fatalidade, transposta para o cinema, resulta num ponto em que o drama se amplia na intenção de fazer chorar, de partir nosso coração. A partir daí a obra perde em originalidade e se afunda numa grande tristeza, surgida da tragédia.

O que segue até o final da história vem na esteira de uma esperança melancólica, de um renascimento marcado pelo acontecido, presente muito mais como atenuação de uma dor profunda. É a lição da esperança e conforto que arrasta o filme até o final. Essa extensão serve para diluir o trágico, e com isso jogar para clichês sentimentais o desfecho do filme.
--

0 comentários:

 

Eu, Cinema Copyright © 2011 -- Powered by Blogger