
Logo em seguida chega a mudança, trazida por dois carregadores contratados, que passam a subir os móveis da nova casa. Com exceção de uma torneira vazando, tudo vai bem, até que aparece Luiz (o ator uruguaio César Troncoso).
A aparição desse personagem diante de Vera causará uma profunda perturbação no seu dia, trazendo à tona lembranças, traumas e versões terríveis de um passado marcado pela incerteza. Uma incerteza que oscila entre a culpa e o ressentimento plantados no horror da tortura.
Dessa avalanche de sentimentos, enterrados em uma memória que reluta em ficar no passado, surge a catarse, tão difícil de ser aceita e encarada.

Nessa densidade de microcosmo - nos cômodos de um apartamento como escaninhos da memória, no desfiado de ressentimentos que fagulham do embate entre os protagonistas -, o filme trabalha a culpa remoída dos que sobreviveram. Uma culpa espelhada na lembrança dos que ficaram no passado: mortos, desaparecidos, arrancados da vida.
Nasce daí a originalidade iluminada do filme, ao trazer para o presente o desdobramento do passado, mas sem a muleta da reconstituição. Esta, quando ocorre, se pauta nas atuações. É objetiva, dura e comovente, mas nunca um recurso fácil.

Mais do que resgatar o passado, Hoje fala do presente. Ainda que este "hoje" seja uma consequência direta da luta e das fissuras na alma provocadas pelo "ontem". Seu ponto de interrogação está no drama de seguir adiante, de merecer ou não a benesse de guardar o passado em seu lugar de memória e viver o hoje sem culpa.
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Hoje
Tata Amaral
Brasil, 2011
90 min.
Trailer
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