Lês Chansons D’Amour
Dir. Christophe Honoré
França, 2007
“Não me ame muito, mas me ame por muito tempo”, foi a frase que a Fernanda me ressaltou quando saímos da sessão. Acabáramos de ver Canções de Amor e a frase ainda ressoava em nossos ouvidos.

O filme é um musical e se destaca por qualidades que podem desarmar os mais resistentes ao gênero. Assim, as canções não atravessam o ritmo da narrativa e a complementam com um encaixe azeitado, com uma poesia sensível e criativa. Os arranjos também são elaborados e o conjunto das canções desenha a história com belíssima delicadeza.

Até que então acontece a perda.
Na segunda parte - a ausência - vivenciamos com as canções a difícil adaptação e o árido recomeço. A ausência em questão cria nos personagens o sentimento de desencaixe e a busca, sem muito rigor ou objetividade, de algum tipo de conforto. Mas todos se mostram perdidos, patinando em um limbo viscoso, queimando lentamente suas dores e suas ausências próprias, cada um tocado e compungido à sua maneira frente à ausência.
É quando surge Erwann (Grégoire Leprince-Ringuet), e sua insistente devoção ao amor. Disposto a ir até o limite para conquistar quem ama, irá conduzir aquele que se perdeu na ausência para o caminho do regresso, ainda que por vias nunca antes caminhadas. É justamente por essa inversão inesperada que se dá a beleza do filme, que, com as canções de amor, mostra que as transposições de sentimentos são todas justificadas pela beleza do gesto.

A beleza das letras, das composições, e da história, se completam com o jogo de cena, construindo assim uma expressividade que está além das palavras, mas que se encerra delicadamente em cada gesto. E não se pode deixar de falar de Paris, que o diretor enquadra sob uma perspectiva de solidão, com uma textura refinada de tristeza e desamparo, mas cuja beleza pode sempre salvar qualquer desespero.
Canções de Amor é capaz de vencer e derrubar muitas barreiras preconceituosas de forma surpreendente. Honoré nos entrega uma experiência de cinema que arrebata abertamente. Porque, como muito bem captou a Fernanda, não importa que se ame muito, mas que se ame por muito tempo.
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