sexta-feira, setembro 16, 2011

Cowboys & Aliens



 Cowboys & Aliens
John Favreau
EUa/India, 2011
118 min.

Dois gêneros tão diferentes como o western e a ficção científica convivendo no mesmo filme pode parecer um risco alto de dar errado. Contrariando essa perspectiva, “Cowboys & Aliens” se ajeita muito bem ao unir esses dois gêneros. Mas isso só acontece porque há uma clara ascendência de um sobre o outro.

Daniel Craig encarna o forasteiro sem nome, sem destino e, aparentemente, sem nada a perder. Talvez porque já tenha perdido tudo. Essa figura é emblemática de gênero; poucos a encarnaram tão bem como Charles Bronson em “Era Uma Vez no Oeste”, de Sergio Leone (1968).

Craig acorda no meio do deserto. Está ferido e traz no pulso um bracelete de metal. Não lembra como chegou ali, como se feriu, como conseguiu o estranho artefato em seu braço, nem seu próprio nome.

Chega a uma pequena cidade para cuidar do estranho ferimento e tentar descobrir quem é. Em pouco tempo, acaba se envolvendo em confusão por dar uns sopapos no arruaceiro e mimado filho do homem mais poderoso da região. Até que finalmente é reconhecido na cidade como Jake Lonergan, um perigoso bandido procurado vivo ou morto e vai parar na cadeia.

Prestes a ser transferido em uma diligência, Jake vê chegar na cidade os homens liderados pelo “coronel” Woodrow Dolarhyde (Harrison Ford). Ele é um arrogante e temido proprietário de gado cujo negócio praticamente mantém a cidade. Vem para resgatar a força o filho, também preso por ferir um agente federal. Reconhece então o forasteiro como o ladrão que lhe roubou uma boa quantia em moedas de ouro. É aí que surgem as espaçonaves.

Entre cowboys, xerifes, ladrões de ouro, cavalos e diligências, os lasers devastadores, as luzes brilhando no céu e as naves “laçando”, literalmente, as pessoas, cria-se uma sinfonia bastante peculiar na mistura de gêneros. A sequência, muito bem orquestrada, impressiona. E o mistério sobre o forasteiro só aumenta quando na presença das naves invasoras seu bracelete se desdobra em uma poderosa arma que dispara lasers.

É com essa súbita avalanche de improváveis acontecimentos que o filme nos coloca dentro do curioso universo de “Cowboys & Aliens”. Após o ataque, Jake e Dolarhyde irão liderar um grupo de cidadãos que partirá em busca de seus familiares levados pelos estranhos objetos voadores.

Estão lá os desfiladeiros, os índios, as colts. Mais do que isso, está o espírito do velho oeste. É essa construção de gênero que faz do filme uma experiência positiva. Ao caprichar na composição do western com seus planos abertos de grandes paisagens, ao caracterizar com acuidade os personagens dentro da mitologia desse universo, o filme ganha estofo e fundamento. Os aliens aqui, felizmente, são só o complemento exótico. A pegada é toda western.

Ao unir dois gêneros, mas deixar que o de maior peso e importância se sobreponha ao outro, “Cowboys & Aliens” acerta na medida e faz dessa improvável fórmula uma sessão divertida. Não entrega o filme a qualquer frenesi de ação disparatada, mantendo o ritmo da narrativa dentro da atmosfera necessária para uma ambientação precisa e bem cuidada.

Harrison Ford e Daniel Craig não fazem feio ao encarnar personagens marcantes do bom “bang bang”. Seus rostos duros e vincados, pelo tempo e pela anatomia, servem muito bem ao gênero. Com o sucesso da empreitada, não deve demorar a vir uma continuação. Para um filme que se mostrou surpreendentemente bem acabado e bem dosado, é torcer para que isso não se perca no próximo. Nada seria pior do que um futuro título como “Cowboys & Aliens vs. Predador”.
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