sábado, setembro 10, 2011

Uma Doce Mentira




De Vrais Mensonges
Pierre Salvadori
França, 2010
105 min.

Graças a seus grandes olhos, o talento de Audrey Tautou muitas vezes fica evidente no olhar. Não apenas nisso. Há ainda o sorriso, a graça e a leveza que a jovem atriz francesa empresta a seus personagens. Mas em “Uma Doce Mentira”, filme que estreou nesta sexta (09), são os olhos da atriz que fazem a diferença. E também o minimalismo de sua atuação.

Uma carta anônima com uma declaração de amor será o pretexto para uma confusão repleta de embaraços. A carta é para Émilie (Tautou), sócia de um salão de cabeleireiros, e pessoa não muito centrada, como logo se vê no início. Quem a escreveu foi um funcionário do salão, Jean (Sami Bouajila), encarregado da manutenção, secretamente apaixonado por ela. Émilie despreza a carta. Depois, tem a brilhante ideia de utiliza-la para levantar o moral da mãe, que vive deprimida por ter sido abandonada pelo marido.

O truque surte efeito e Maddy (Nathalie Baye), sua mãe, se remoça com o falso flerte. Mas por pouco tempo. Fica na ansiedade de uma nova carta do tal admirador secreto. Quando não recebe nenhuma, cai novamente em tristeza. Isso obriga Émilie a “providenciar” outra carta. A partir daí, desencontros e equívocos levarão os personagens a situações mais embaraçosas e complicadas.

O início é excelente. O ritmo afiado azeita com sabor o timing da comédia; tudo faz o riso deslizar fácil no princípio. Há uma química poderosa entre os personagens. Tautou, frágil, ocultando a suscetibilidade de Émilie por trás dos grandes olhos, precisa de um mínimo de gestos para nos encantar. Sua personagem, com boa intenção e o mesmo tanto de inconsequência, provoca uma série de equívocos. Quando percebe, se vê num beco sem saída. Até aí, o roteiro vem tão azeitado quanto todo o resto. Depois desanda.

Há um mal crônico em “Uma Doce Mentira”. Mal que afeta invariavelmente as comédias românticas de hoje em dia. Trata-se da necessidade de, no final, desembaraçar todo emaranhado de confusões que se criou no início para fazer o público rir. E ri-se muito na primeira parte do filme.

Parte do problema é como todos os três personagens envolvidos na confusão passam a se comportar. Há um forte ruído de descompasso na forma como foram apresentados e na maneira como passam a agir quando descobrem o que está de fato acontecendo. Esse ruído não apenas incomoda como desconcerta. Ao ressoar, nos desconecta desses personagens. Desfaz-se a empatia. Sem essa conexão, o restante do filme cai em certa monotonia, com graça apenas aqui e ali, mas sem a vivacidade de sua primeira parte.

As atuações seguem bem, especialmente Tautou, que segura sua interpretação com momentos iluminados, amparados na simplicidade e contenção. Mas o roteiro se arrasta tanto, passando do ponto de encerrar a história, que até ofusca o brilho dos grandes olhos da atriz.

Só não ofusca, contudo, outro grande par de olhos. São os da atriz Judith Chemla, que quando presentes na tela, roubam a cena. No pequeno papel de Paulette, recepcionista inexperiente e bastante atrapalhada do salão, sua participação pontual está entre os melhores momentos do filme.
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