sexta-feira, março 09, 2012

W.E. - O Romance do Século


Arrisca-se, pela segunda vez, a cantora Madonna na direção de um longa-metragem. A primeira, em 2008, foi com a comédia Filth and Wisdom, que nem chegou a ser lançada por aqui e não obteve sucesso nas bilheterias. Desta vez, a pop star ataca com uma história verídica narrada em paralelo com outra ficcional; duas histórias que se passam em épocas totalmente diferentes.

A primeira, se passa nos anos 30 do século passado. Madonna recria à sua maneira o romance que levou um rei a abdicar de seu trono. É a história de Edward, (James D'Arcy), Príncipe de Gales, herdeiro do trono da Grã Bretanha, e Wallis Simpson (Andrea Riseborough), uma mulher duas vezes divorciada. Após assumir o trono, em 1936, Edward não abre mão de se casar com Wallis, algo que a Igreja Anglicana e a família real nunca tolerariam. Sofrendo pressões de diversos lados, o rei abdica do trono em favor de seu irmão George - o rei gago cuja história foi contada em O Discurso do Rei (2010).

A segunda história se passa nos anos 90, quando conhecemos Wally Winthrop (Abbie Cornish), uma mulher sofisticada cujo casamento com um renomado médico de Nova York não vai bem. Infeliz com o marido sempre ausente e com a dificuldade em conseguir engravidar, todos os dias ela passa horas em uma exposição para leilão de objetos pertencentes à Wallis e Edward. Fascinada pela história do casal e fragilizada por suas insatisfações pessoais, ela conhece o charmoso segurança da exposição Evgeni (Oscar Isaac), com quem passa a conversar frequentemente.

Ao contrário do que ocorre em filmes que usam o recurso de contar histórias paralelas no tempo, o filme de Madonna é exemplar em seguir a definição do termo paralelo. Isso porque em nenhum momento as histórias ganham algum ponto de contato ou aproximação, exceto pelo expediente forçado da obcessão de uma das protagonistas uma com a história da outra.

A transferência por identificação que ocorre da mulher dos anos 90 para a mulher que ela imagina ter sido a Wallis dos anos 30 é um ponto frágil demais para sustentar o contato entre as histórias, que nunca se conectam de verdade. Dessa forma, o recurso soa artificial e forçado, criando um ruído toda vez que a narrativa se alterna.

Isoladas, ambas histórias são também frágeis. Madonna romantiza em excesso a relação de Edward e Wallis. Distorce fatos históricos para criar um drama no qual a figura feminina é a grande vítima, aquela que carrega o maior peso de toda a renúncia do casal. Mas é a segunda história o elo verdadeiramente fraco da narrativa. Sua protagonista e seu drama carecem de um conflito construído de forma convincente. Na forma como é apresentado, a inconsistência das situações revela a fraca sustentação dramática, necessária para convencer como drama e criar empatia.

Na direção, Madonna abusa de alguns maneirismos que não acrescentam nada ao filme e servem apenas como um exercício estético cafona. Isto transforma W. E. – O Romance do Século em um filme pretensioso, cuja fotografia e direção de arte bem trabalhados tentam esconder a falta de substância da narrativa. Falta conflito, falta construção de personagem, falta convencer.

Em vez disso, o que se vê é uma produção arrastada, com uma total falta de ritmo, cheia de passagens que não levam a narrativa adiante, tornando a experiência monótona e cansativa. Longo demais, é excessivo na resolução das tramas, acrescentando, perto do fim, uma série de camadas enfadonhas para amarrar o desfecho. Para quem já foi casada com um diretor bastante bom (Guy Ritchie), Madonna parece longe de um amadurecimento como diretora.
--
W.E.
Madonna
Reino Unido, 2011
119 min.

Assista ao trailer

0 comentários:

 

Eu, Cinema Copyright © 2011 -- Powered by Blogger