Afonso Poyart
Brasil, 2012
108 min.
Munido de um batcinto
de utilidades de referências do cinema moderno, Afonso Poyart não hesita em
aplicar todas elas em sua estreia na direção. O resultado é bom, mas carece de
depuração, de uma mão menos pesada na estética e no empilhamento de
referências, que passam por Guy Ritchie, Tarantino, Michael Mann, Zack Snider e
videogames.

Foi lá que teve tempo e ociosidade para tramar sua grande
jogada, com a qual pretende matar dois coelhos em um único lance. Seu plano
envolve um deputado corrupto, um poderoso traficante e membros também corruptos
do Ministério Público. Sua motivação seria o justiçamento, um ato contra o
sistema. Mas esta justiça é apenas cortina de fumaça para um plano muito maior.
Um plano que só será revelado nos segundos finais do filme.
Poyart monta sua história com uma narrativa não-linear. Feito
um cubo mágico, estabelece relações entre os personagens, e num momento
seguinte conecta outro elemento, reconfigurando a trama. Essa montagem é
eficaz, dá mobilidade à história, reestrutura perspectivas e prende a atenção.
No leque de citações, apresenta cenas de ação, perseguição e tiroteios abusando
das referências. São câmeras-lentas, travellings,
imagens cristalinas de uma ação estetizada, influências claras de um cinema de
ação cheio de estilo e personalidade.

Mas o filme não escapa de falhas. Em uma trama tão
elaborada, com elementos de quebra-cabeça, o roteiro precisa ser forte. Neste
caso, não é. São furos e conexões frágeis que estão ali para amarrar a história,
muitas vezes sem muita consistência. Parte dessas falhas são encobertas pela
edição rápida, pela estrutura fragmentadas, que funcionam como elementos
dispersivos da atenção. Com um pouco mais de simplicidade a consistência da
trama seria outra, muito melhor.
2 Coelhos é
diversão. Funciona como tal. Assume na sua premissa o desejo punidor da
população contra bandidos, armados de pistolas ou armados de gravatas. Vai além
no desenrolar de seu roteiro e cria uma trama secundária que logo passa à
frente. Faz bem essa inversão, mas peca nos excessos. Faltou equilíbrio e
apuro, faltou não impregnar-se tanto de uma linguagem sustentada pela estética
publicitária/videoclip revestida de cinema cult contemporâneo. Como primeiro
longa, não está mal. Poyart surge como promessa. Com apuro, pode vir a ser
muito melhor.
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