terça-feira, dezembro 21, 2010

Os Indomáveis



3:10 To Yuma
James Mangold
EUA, 2007

“Os Indomáveis” (2007), refilmagem de “Galante e Sanguinário”, de 1957, é um filme sobre o embate de princípios. Um filme sobre a fé de um homem no caminho que decidiu trilhar e até onde está disposto a ir para chegar lá.

De um lado temos Dan Evans (Christian Bale), um fazendeiro endividado que corre o risco de perder suas terras. Embora tenha lutado na guerra e seja um exímio atirador, Evans é uma pessoa pacífica, que não acredita na violência. Mesmo quando seus credores incendeiam seu estábulo no meio da noite, ele se mantém firme em seus princípios. Do outro lado, temos Ben Wade (Russell Crowe), o temido líder de um bando que rouba, mata e aterroriza sem qualquer piedade.

Os caminhos de ambos se cruzam quando Wade é capturado e Evans, precisando de dinheiro, aceita receber uma boa quantia para ajudar a escoltar o bandido até a próxima cidade, onde ele será colocado num trem para a prisão de Yuma. Evans sabe que a tarefa é perigosa, pois o bando de Wade está solto e fará de tudo para resgatá-lo.

O embate entre Evans e Wade não se dá por armas, mas com palavras e gestos. O primeiro acredita em seus princípios e se preocupa em repassá-los aos dois filhos, de 14 e 8 anos. Contudo, sente brutalmente o peso de seu descrédito diante da família, que o julga covarde. Isso fica claro através da esposa, que evita olhá-lo nos olhos, e no desprezo que sente no olhar dos filhos. Já Wade representa o oposto. Ladrão e assassino frio, ele se mostra implacável mesmo entre seus homens, não hesitando em executar qualquer um que, por descuido, ponha em risco as ações do grupo.

Mas Wade não é um vilão caricato e estereotipado. Ele é galante, irônico, oblíquo e, mais que tudo, carismático. Sua crueldade confunde-se com seu charme, sarcasmo e cinismo. Mais uma vez, o oposto de Evans, que é um homem sisudo, quieto, introspectivo. Ambos, veladamente, defenderão suas posições, tendo como pêndulo que oscila entre um e outro o filho mais velho de Evans, dividido entre o fascínio pelo criminoso e o amor que resta por seu pai.

Entre tentativas de fuga e perseguições desenfreadas, entre demonstrações de crueldade e de retidão de princípios, o desfecho desse confronto se dá não no clichê de um longo tiroteio, mas num pequeno quarto de hotel. Ambos, desprezando o caráter um do outro, colocam suas cartas na mesa e seus princípios como aposta. Duas linhas divergentes, mas sempre muito próximas, para dispor seus argumentos, mostrando até onde se sustenta um ideal; seja pela convicção num credo particular, seja pela total ausência de credo.

Ainda que o diálogo no quarto de hotel, pouco antes do fim, seja o ponto alto do filme, é na sequência final que se mostra claramente quem venceu o embate. E essa demonstração virá num simbólico gesto de ira implacável, que poderá também significar a tomada de um outro rumo, ou a impossibilidade dele.

Esta surpresa final, sua dubiedade marcante, encerra com perfeição um filme que se susteve sempre no campo do ideal e do caráter. Um filme sobre as decisões que marcaram as vidas de dois homens e definiram seus destinos, para o bem ou para o mal, de maneira incontornável.
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