quarta-feira, agosto 10, 2011

Tudo Estará Bem




Alting Bliver Godt Igen
Christoffer Boe
Dinamarca/Suécia/França, 2010
98 min.

O diretor dinamarquês Christoffer Boe, que em 2003 venceu o Camera D’or do Festival de Cannes (que premia diretores iniciantes) com o drama “Reconstrução de um Amor”, investe agora num thriller psicológico de paranoia e perseguição. O filme entra e cartaz na próxima sexta (12), no Rio de Janeiro.

Jacob Falk (Jens Albinus) é um roteirista de cinema que não está conseguindo escrever. Sofrendo forte pressão do estúdio para cumprir um prazo que se esgota, sente-se profundamente angustiado. Casado, sofre ainda a cobrança da esposa para que consiga os papeis para a adoção de uma criança, sonho antigo do casal, muito perto de se realizar.

Em uma trama paralela, conhecemos o jovem dinamarquês Ali (Igor Radosavljevic) um descendente de árabes que foi convidado pelas forças armadas da Dinamarca para servir de intérprete no Iraque. Ao voltar do serviço militar trás consigo, escondido na bagagem, fotos de prisioneiros de guerra sendo torturados por oficiais dinamarqueses. Vigiado por homens do governo, tenta não ser pego com as fotos.

Um acidente fará com que Ali e Jacob se cruzem de maneira inesperada e Jacob acabará ficando com as fotos. Começa aí a paranoia do roteirista que, ao tentar divulgar as fotos pela imprensa, suspeitará de uma grande rede conspiratória para impedi-lo. Temendo por sua vida e pela vida da esposa, ele passa a suspeitar de todos ao seu redor.

O filme segue a cartilha do gênero para filmes de paranoia conspiratória, quando é preciso alcançar basicamente dois efeitos para que seja eficiente: deixar o expectador inseguro quanto ao que é real e o que pode ser paranoia nas suspeitas do personagem; e criar uma atmosfera de perigo iminente o tempo todo.

Na condução da trama, Boe consegue realizar muito bem o primeiro efeito. Envolver-se em uma trama conspiratória, escrever às pressas um roteiro de filme e ainda adotar uma criança, resulta em uma mistura estressante e sufocante para a vida do personagem. Sob tanta pressão, tudo pode se confundir na percepção que Jacob passa a ter da realidade e com isso o expectador sente-se inseguro em identificar o que é real e o que é paranoia do personagem. Não há certezas e nessa atmosfera o filme funciona bem.

Contudo, o filme falha muito na construção do segundo efeito, o de perigo iminente. Não se tem, em momento algum, a sensação de perigo real para Jacob, que mais parece fugir de si mesmo e de seus conflitos. A trama e o suspense não são suficientes para nos deixar tensos com a possibilidade de perigo, embora ele exista no contexto da trama. Esse ponto fraco desequilibra o filme e o deixa morno, apesar das incertezas que o roteiro cria. Essas incertezas não são suficientes para nos manter tensos, como dita a regra do gênero.

O resultado final é uma promessa de suspense e tensão ensaiada no início do filme que não se cumpre no seu desenrolar. A coisa fica pior quando finamente temos a revelação do que realmente está acontecendo. Para isso, o filme usa o recurso desgastado do flashback explicativo. Artifício tido como muleta narrativa por si só, nesse caso há ainda o agravante de sua duração muito longa, quebrando completamente o ritmo do filme e fazendo seu desfecho ser menos intenso que seu início. Falta ao filme criatividade e timing narrativo para realizar com competência o que se propõe: uma trama de suspense e tensão. Fica no meio do caminho.
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