The Help
Tate Taylor
EUA/Índia/Emirados Árabes, 2011
146 min.
Histórias Cruzadas
é um filme que apela para o sentimentalismo fácil. Afinal, um tema como a
segregação racial sempre inspira comoção – exceto, claro, se você sofrer de uma
patologia repugnante chamada preconceito.
Esta comoção “fácil” é sempre válida quando funciona como
mecanismo para despertar a consciência, manter viva a memória da História e
servir como reflexão sobre nossas ações enquanto seres humanos: hoje, ontem e
amanhã. Está nisso a validade do filme, plena. Como cinema, entretanto, não se
justifica todo ruído que tem feito como favorito a prêmios e celebrações.
A história se passa nos EUA dos anos 60, quando a luta pelos
direitos civis começa a se espalhar pelo país. Mas na pequena cidade de
Jackson, no interior do Mississipi, as palavras de Martin Luther King ainda
ressoavam baixo, abafadas pela sociedade conservadora local. É nesse cenário
que a jovem Skeeter Phelan (Emma Stone) retorna depois de se formar como
jornalista.
Skeeter reencontra quase tudo como antes. Em Jackson, todas
as casas de famílias brancas têm uma empregada negra. Mulheres que além dos
afazeres domésticos são também responsáveis por cuidar dos filhos das finas
senhoras brancas locais. Uma tarefa que, em alguns casos, cria forte relação
afetiva. Como a de Skeeter com a velha Constantine (Cicely Tyson), empregada de
sua família desde sua infância. Mas quando a jovem retorna, não encontra mais
sua afetuosa babá que, segundo seus pais, se demitiu e foi morar em outra
cidade.
Além de achar esta história mal contada, Skeeter ficará
ainda mais aborrecida quando descobrir o que sua amiga de infância – e atual líder
das distintas senhoras casadas locais –, Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard),
propõe como item obrigatório em todas as casas de Jackson. Ela acha que as
empregadas negras não devem usar o mesmo banheiro de seus patrões e todas as
casas da cidade deveriam ter um banheiro para os empregados negros. Afinal,
argumenta Hilly, eles podem ter doenças contagiosas.
Indignada, a jovem jornalista decide escrever uma matéria
contando histórias das empregadas, mostrando o ponto de vista delas em relação
ao trabalho e à segregação. Mas encontra grande dificuldade, já que todas temem
sérias represálias por falarem sobre o assunto. A primeira que decide falar é Aibileen
Clark (Vila Davis), logo seguida por outras empregadas cansadas de tanto
preconceito e humilhações. O resultado é mais que uma reportagem, e sim um
livro cuja publicação irá abalar as estruturas da sociedade conservadora local.
Histórias Cruzadas
é sobre a coragem de confrontar o modelo estabelecido, mas também sobre a
construção do orgulho e a honra de se manter cabeça erguida. O melhor exemplo
disso está na atitude corajosa de Aibileen. Mas toda abordagem sobre um tema
tão sério e repleto de feridas históricas acaba sendo suavizada, com traços
cômicos, principalmente na figura de Minny Jackson (Octavia Spencer, em uma
atuação deliciosamente debochada).
Esta leveza no trato com o tema da segregação cria
personagens estereotipados como o de Hilly, que exala o tipo de maldade de
fácil hostilização por parte da plateia, criando um antagonismo maniqueísta, de
simplismo caricato. Na verdade, em Histórias
Cruzadas, a segregação é apenas pretexto para o drama, para fazer lágrimas
no espectador. Principalmente quando os acordes da trilha sonora se junta às
injustiças do mundo.
Mas o drama verdadeiro das vítimas de preconceito racial, da
segregação criminosa e repulsiva na história dos EUA, essa fica só na
pincelada. Afinal, é preciso pegar leve com o público e garantir, pela
amenidade da abordagem, algumas indicações ao Oscar e muitas lágrimas dos mais
chorosos. Mas o filme é só isso. Uma história que traz alguns dramas levemente
adocicados pelo cômico, com uma mensagem edificante para compor o toque final
de um tipo de cinema mediano e convencional.
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