sábado, fevereiro 04, 2012

Histórias Cruzadas


The Help
Tate Taylor
EUA/Índia/Emirados Árabes, 2011
146 min.

Histórias Cruzadas é um filme que apela para o sentimentalismo fácil. Afinal, um tema como a segregação racial sempre inspira comoção – exceto, claro, se você sofrer de uma patologia repugnante chamada preconceito.


Esta comoção “fácil” é sempre válida quando funciona como mecanismo para despertar a consciência, manter viva a memória da História e servir como reflexão sobre nossas ações enquanto seres humanos: hoje, ontem e amanhã. Está nisso a validade do filme, plena. Como cinema, entretanto, não se justifica todo ruído que tem feito como favorito a prêmios e celebrações.
A história se passa nos EUA dos anos 60, quando a luta pelos direitos civis começa a se espalhar pelo país. Mas na pequena cidade de Jackson, no interior do Mississipi, as palavras de Martin Luther King ainda ressoavam baixo, abafadas pela sociedade conservadora local. É nesse cenário que a jovem Skeeter Phelan (Emma Stone) retorna depois de se formar como jornalista.

Skeeter reencontra quase tudo como antes. Em Jackson, todas as casas de famílias brancas têm uma empregada negra. Mulheres que além dos afazeres domésticos são também responsáveis por cuidar dos filhos das finas senhoras brancas locais. Uma tarefa que, em alguns casos, cria forte relação afetiva. Como a de Skeeter com a velha Constantine (Cicely Tyson), empregada de sua família desde sua infância. Mas quando a jovem retorna, não encontra mais sua afetuosa babá que, segundo seus pais, se demitiu e foi morar em outra cidade.

Além de achar esta história mal contada, Skeeter ficará ainda mais aborrecida quando descobrir o que sua amiga de infância – e atual líder das distintas senhoras casadas locais –, Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard), propõe como item obrigatório em todas as casas de Jackson. Ela acha que as empregadas negras não devem usar o mesmo banheiro de seus patrões e todas as casas da cidade deveriam ter um banheiro para os empregados negros. Afinal, argumenta Hilly, eles podem ter doenças contagiosas.

Indignada, a jovem jornalista decide escrever uma matéria contando histórias das empregadas, mostrando o ponto de vista delas em relação ao trabalho e à segregação. Mas encontra grande dificuldade, já que todas temem sérias represálias por falarem sobre o assunto. A primeira que decide falar é Aibileen Clark (Vila Davis), logo seguida por outras empregadas cansadas de tanto preconceito e humilhações. O resultado é mais que uma reportagem, e sim um livro cuja publicação irá abalar as estruturas da sociedade conservadora local.

Histórias Cruzadas é sobre a coragem de confrontar o modelo estabelecido, mas também sobre a construção do orgulho e a honra de se manter cabeça erguida. O melhor exemplo disso está na atitude corajosa de Aibileen. Mas toda abordagem sobre um tema tão sério e repleto de feridas históricas acaba sendo suavizada, com traços cômicos, principalmente na figura de Minny Jackson (Octavia Spencer, em uma atuação deliciosamente debochada).

Esta leveza no trato com o tema da segregação cria personagens estereotipados como o de Hilly, que exala o tipo de maldade de fácil hostilização por parte da plateia, criando um antagonismo maniqueísta, de simplismo caricato. Na verdade, em Histórias Cruzadas, a segregação é apenas pretexto para o drama, para fazer lágrimas no espectador. Principalmente quando os acordes da trilha sonora se junta às injustiças do mundo.

Mas o drama verdadeiro das vítimas de preconceito racial, da segregação criminosa e repulsiva na história dos EUA, essa fica só na pincelada. Afinal, é preciso pegar leve com o público e garantir, pela amenidade da abordagem, algumas indicações ao Oscar e muitas lágrimas dos mais chorosos. Mas o filme é só isso. Uma história que traz alguns dramas levemente adocicados pelo cômico, com uma mensagem edificante para compor o toque final de um tipo de cinema mediano e convencional.
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