sexta-feira, junho 03, 2011

Estamos Juntos



Estamos Juntos
Toni Venturi
Brasil, 2011
111 min.

Novo filme de Toni Ventura, que estreia nesta sexta (03), “Estamos Juntos” é um drama de introspecção e autoconhecimento. Uma jornada de angústia, dúvida e solidão pela qual passará sua protagonista. Um caminho sufocante que a fará perceber que seu mundo não é tão seguro, nem tão equilibrado quanto pensa.

Carmen (Leandra Leal) é uma médica residente que aspira se tornar cirurgiã. Respeitada pelos colegas do hospital público onde trabalha, dedica-se arduamente ao trabalho e aos estudos. Também participa como voluntária de um trabalho de orientação a famílias carentes de uma comunidade do MSTC (Movimento dos Sem Teto do Centro). Com uma rotina intensa de trabalho e estudo, não tem muito tempo para dedicar a seus amigos.

Dentre as poucas amizades que Carmen cultiva está a de Murilo. Ele é DJ de uma banda que mistura música eletrônica com instrumentos clássicos. Homossexual assumido, Murilo apresenta Carmen a Juan (Nazareno Casero), um músico argentino incorporado recentemente à banda, por quem Murilo está apaixonado. Mesmo sabendo da paixão de seu amigo pelo músico argentino, Carmen se deixa levar pela atração e inicia um romance com o jovem.

Mas Carmen parece não desenvolver laços íntimos com ninguém, sendo uma pessoa fechada e isolada. Ela se abre apenas para um enigmático amigo (Lee Thalor) que, embora pareça morar no mesmo apartamento que ela, nunca é visto por ninguém.

A vida de Carmen entra em turbulência quando ela descobre que tem um tumor no cérebro em adiantado desenvolvimento. Desnorteada, vai perceber aos poucos que nunca construiu amizades verdadeiras, justamente por sempre se manter distante das pessoas. Entre a iminência da morte e a solidão repentina, Carmen terá que reencontrar um equilíbrio para sua vida, tomar decisões que afetarão seu futuro e aprender a confiar nas pessoas.

A potencialidade dramática do roteiro de “Estamos Juntos” se revela uma armadilha para o diretor Toni Venturi. É evidente, na forma como a narrativa se desenrola, uma pretensão de alavancar diversas facetas filosóficas sobre a solidão e a morte, contrastadas pela vida na cidade grande, no caso São Paulo. Em vez de estabelecer apenas um ou dois focos dramáticos, o filme se multiplica em personagens que muitas vezes, pelo subaproveitamento de seus dramas, soam como arrimos de uma história que não nos comove.

Falta á narrativa uma cadência sólida, constante. Falta uma verdadeira aproximação da personagem de Leandra Leal. A atriz, de já comprovado talento, não consegue transmitir empatia e ficamos distantes de seu drama, incapazes de nos comover com ele. Contribui para isso a fragmentação de seu mundo e a presença de seu amigo secreto, causando um estranhamento que mais afasta que aproxima.

Ao querer preencher o filme com outros dramas que não apenas o da personagem central, o roteiro acaba por dispersar a força da experiência pela qual passa Carmen. A superficialidade de tudo que orbita Carmen contamina sua própria vida, tornando-a também superficial. Desse modo, embarcar na sua dor e nas suas angústias se torna difícil para o espectador e o filme acaba soando raso. Justamente o contrário de sua pretensão e em prejuízo de uma história e de uma personagem de grande potencial.
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