Sunset Boulevar
Billy Wilder
EUA, 1950
Crepúsculo do Deuses, de 1951, destila uma ácida ironia contra a indústria do cinema americano, que constrói e destrói lendas do dia pra noite.

Mas a ironia de Wilder em retratar uma Hollywood que descarta rapidamente e sem piedade seus mitos ultrapassados, na mesma velocidade que os substitui por outros mais jovens, vai além do roteiro e permeia o próprio elenco. Assim, temos a própria Gloria Swanson, ela mesma uma diva esquecida do cinema mudo. Ou o grande diretor Erich von Stroheim, que interpreta o mordomo Max von Mayerling, um dedicado serviçal que idolatrada sua estrela e faz de tudo para que as ilusões dela não se quebrem nunca. Outro mito do cinema interpreta si mesmo: Cecil B. DeMille, que ao lado de Strohein, D. W. Griffith e Chapplin deram dimensões geniais ao cinema mudo.
Todas essas referências servem como testemunho de um tempo de glórias que passou, e cuja memória parece se diluir na desimportância do esquecimento. Para acentuar esta melancolia, Wilder dá ao filme um tratamento noir, com iluminação de contrastes sombrios.
Crepúsculo dos Deuses se destaca também pela atuação de Swanson. Sua interpretação de transtorno, de mulher solitária que vive dentro de um mundo de realidade deformada por ilusões doentes, constitui uma força do filme. Essa força se acentua pelo cenário, no qual a própria mansão onde vive a atriz se torna um reflexo dela mesma e de suas ilusões. Esse reflexo está nos exageros de uma decoração ostentadora, que apresenta os sinais do envelhecimento e da decadência em suas colunas imponentes corroídas pelo tempo.

Crepúsculo dos Deuses é um dos grandes clássicos do cinema, um filme de força intensa que penetra no melancólico destino daqueles que um dia foram reis e rainhas, mas que caíram no esquecimento e na irrelevância que toda ausência de memória histórica trás. Um filme que explora a dor e a margem tênue da loucura diante do abandono.
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