J. Edgar
Clint Eastwood
EUA, 2011
137 min.
J. Edgar, novo trabalho
de Clint Eastwood na direção, é um filme amargo. Não há pompas e
grandiloquências no retrato que Clint traça do homem que praticamente fundou o
FBI (Federal Bureau of Investigation) e o administrou por 48 anos. Mas há
força. A força de um homem implacável, determinado, e ao mesmo tempo frágil.
Mas de uma fragilidade oblíqua, jamais a incapacitá-lo de fazer o que achava
que devia fazer.

Um tempo em que nomes como John Dillinger, Pretty Boy Floyd,
Kate "Ma" Barker, Alvin "Creepy" Karpis, George
"Machine Gun" Kelly e Baby Face Nelson tinham seus feitos noticiados,
e não raramente aumentados, pelos jornais. Todos eles foram presos ou mortos
pelo FBI sob o comando de Hoover.
No filme, sua história é construída em flashback. Leonardo
Di Caprio, sob uma convincente maquiagem de envelhecimento, interpreta J. Edgar.
Ele começa a ditar sua autobiografia para agentes escolhidos a dedo para a
tarefa de registrarem seu legado. Quer contar a história do FBI e sua própria
história. Entre relatos e lembranças (nem todas ditadas), regressa até o ano de
1919, quando era um jovem agente do Departamento de Justiça designado para
investigar atentados comunistas contra membros do departamento.

É nesses termos que Clint desenha Hoover, mas constrói esse
mito dentro de uma amarga permanência no poder. Essa amargura não surge como
consequência desse poder ou de suas ações, nem de uma solidão inerente à
função, mas de uma característica própria do homem cujo histórico guarda um amplo
leque de chantagens e perseguições. O poderoso diretor do FBI que se sustentou
no poder “atravessando” oito presidentes. Sua amargura vem dessa permanência,
sustentada por chantagens e intimidações, por suas disfunções afetivas na
dependência materna, figura que é a base de sua sustentação, mas também a
repreensora velada de sua natureza íntima: a homossexualidade.

Com o talento e a sensibilidade de sempre, Clint trabalha
isso na esfera da complexidade humana, no modo como J. Edgar se deixa ou não
afetar. Mas não passa em branco seu relacionamento de uma vida inteira com
Clyde Tolson (Armie Hammer), que foi seu braço direito no FBI por todo o tempo
que permaneceu à frente do bureau.

Sem enfeites, J. Edgar
é um filme honesto, desburocratizado e eficiente. Não busca um retrato
histórico acrítico, mas um retrato em perspectiva de uma figura cujo valor como
homem e cidadão pode ter mais de uma faceta. Vai da vilania à determinação pelo
dever, mas não assa pela coragem. Para além do bem e do mal, Hoover é
construído por Clint como um homem que teve na amargura das convicções o
tempero de toda sua vida. Foi grande e pequeno ao mesmo tempo. E deixou, sim,
um legado. Mas um legado manchado por ações covardes e indefensáveis.
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