terça-feira, agosto 09, 2011

Saturno em Oposição



Saturno Contro
Ferzan Ozpetek
Itália/França/Turquia, 2007
110 min.

O domínio do tempo da narrativa é o grande destaque neste filme de Ferzan Ozpetek. Com uma simplicidade de gestos breves, em meio ao tempo de transições e conflitos, os sentimentos se transformam e o modo como se conduz essa transformação trás uma rica beleza de vida, tempo e passagem.

O filme abre com a narração de Lorenzo (Luca Argentero), jovem e belo arquiteto, falando da felicidade que sente de receber os amigos em sua casa, de como gostaria que aquilo nunca mudasse, mas tem a certeza de que na vida nada é para sempre. Lorenzo vive com Davide (Pierfrancesco Favino), um bem sucedido escritor e editor de livros. São um casal apaixonado, parte de um círculo de amigos de muitos anos.

Entre os amigos, há o casal Angélica (Margherita  Buy) e Antonio (Stefano Accorsi), que enfrentarão em breve uma crise no casamento, há o casal Neval (Serra Yilmaz) e Roberto (Filippo Timi), ela falastrona e de personalidade, ele submisso e cordato. E também a jovem Roberta (Ambra Angiolini), consumidora moderada de drogas variadas com problemas emocionais, além de Sergio, solteiro, próximo da meia idade, ex-namorado de Davide, também editor de livros.

É a relação desse grupo diverso e a forma como atravessarão os estágios emocionais a que o filme os levará, a real substância dessa narrativa de Ozpetek. Ao longo do filme, passarão todos pela felicidade, tristeza, perda, luto e restituição das coisas. Nesse processo, haverá crises, discussões, silêncios e as dificuldades de se lidar com a morte, com o arranjo das coisas, com temas delicados e explicações dolorosas.

Na construção dessa narrativa, o diretor demonstra uma habilidade surpreendente em conduzir as emoções e os personagens sem grandes alardes. Seu trabalho é de gestos pequenos, de momentos em que o quadro diz sem precisar dizer, quando tudo se explica pelo silêncio e pelo andamento do tempo. É na condução desse tempo, na perfeita sintonia da transição entre os momentos emocionais do filme, que Ozpetek demonstra um incrível domínio da fluidez acertada, cadenciada, quase musical do tempo narrativo.

As passagens suaves, a expressão dos sentimentos pelos olhares, os movimentos de câmera. Tudo carrega sua carga de emoção e andamento, tudo indica a transformação do íntimo de todos; a dor, o ressentimento, a ausência e a força ou fraqueza em cada personagem. Seu andamento é como música, mas com trilha sonora mínima, um andamento feito de domínio e perfeição. E é nessa cadeia de complexos sentimentos, parte de um círculo de amizade renitente, que se refaz, dos cacos do sofrimento e da perda, a restituição da alegria. Se não para sempre, já que nada dura tanto, ao menos pelo tempo que o tempo permitir durar.

“Saturno em Oposição” é um filme sobre a vida, o tempo e a amizade. Sobre sentimentos impossíveis de serem expressos, apesar de estarem à flor da pele. É uma obra que desliza diante de nossos olhos, levando em sua passagem os sentimentos duros e suaves que a vida nos impõe ou proporciona. Uma história na qual a beleza não está no que se vê de imediato, mas no que se viu enquanto o tempo passava.
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