quinta-feira, novembro 11, 2010

Três Quintais

34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
--
3 Backyards
Eric Mendelsohn
EUA, 2010
--

Três histórias em paralelo. Em comum, a vida no subúrbio e a incomunicabilidade de três personagens. Uma partida, uma fábula, uma barreira intransponível. Cada um dos personagens vai vivenciar ao longo do dia uma experiência única e marcante.

Um casal em crise e uma partida inadiável. No aeroporto o voo cancelado. Apesar de morar na cidade, ele vai para o hotel que a companhia aérea disponibiliza. Telefona para casa, fala com a filha. Há muito sentimento represado, longe das palavras. Quando fala com a esposa são reticências, o não-dizer. Há uma dor no que não se diz, nas barreiras do comunicável. Como uma distância próxima, mas difícil de superar.

Uma bisbilhotagem de criança. A pulseira que não deveria estar em seu braço, difícil de sair. A mãe chama, o ônibus escolar chega. A pulseira não quer sair. Na rua o ônibus já dobra a esquina, inalcansável. Chegar à escola torna-se uma aventura por quintais alheios, entre folhagem, grama, cercas. Depara-se com um gigante, encontra cães perdidos e na escola percebe que em algum lugar de sua aventura perdeu a pulseira.

A nova vizinha famosa, atriz de Hollywood, pede um favor, uma carona. Cria-se daí uma expectativa incomum, o inesperado, a ansiedade. Aos poucos, contudo, uma simples carona se transforma no estranhamento, no enigma. Surge uma barreira intransponível.

Nessas três histórias aparentemente sem ligação habita o fantasma de relações cuja intransponibilidade da comunicação se torna um muro quase palpável. Entre a epifania, a fábula e a catarse, cada uma delas seguirá caminhos próprios e seus protagonistas vivenciarão nesse dia um confronto com coisas que não compreendem. Coisas que sabem dentro de si, mas que são incapazes de verbalizar. Como quando se pergunta a um deles por que está chorando e a resposta é a síntese desse estranhamento: não tenho a menor idéia.

Por fim, resta o regresso para casa. De uma forma ou de outra, todos regressam. Mas ao regressarem trarão no íntimo mais dúvidas que certezas. Num filme de sentidos suspensos, impalpáveis, fica mesmo o não dito, mas a possibilidade de um dia dizê-lo.

O diretor Eric Mendelsohn realiza um filme de momentos especiais, de uma beleza contida no sentimento de cada personagem, oculto entre os não-dizeres. O grande equívoco do filme é a trilha sonora, que parece querer impor um clima de contraponto à gravidade das tramas, como uma amenidade de subúrbio. Torna-se inconveniente e irritante. Mas o filme, apesar disso, é bom.
--

0 comentários:

 

Eu, Cinema Copyright © 2011 -- Powered by Blogger