terça-feira, outubro 18, 2011

Contágio


Contagion
Steven Soderbergh
EUA/Emirados Árabes Unidos, 2011
106 min.

O número destacado em vermelho, legendando a primeira imagem de Contágio, não deixa dúvidas: 2º DIA. É o alarme que dispara este novo filme de Steven Soderbergh (de Onze Homens e Um Segredo e o díptico Che), que mostra a disseminação de um vírus capaz de matar milhões de pessoas no mundo todo. Na cena, Gwyneth Paltrow tossindo. É a primeira de um elenco de estrelas de Hollywood que participa do filme. Sua tosse inocente, de cara, põe medo.
 
Sem focar nenhum protagonista, pulverizando o enredo em diversas histórias, o filme começa de forma eficiente. O diretor usa a câmera para insinuar o perigo de forma contundente. A todo momento vemos tomadas próximas enquadrando mãos que, em lugares públicos, tocam objetos, apertam botões, seguram copos, celulares, balaústres. É o contágio se disseminando.

Não ver o que se teme, mas saber que está lá é um dos princípios do medo. E funciona muito bem neste início de filme. Estatísticas como o fato de que tocamos nosso rosto com a mão cerca de 5 mil vezes ao dia também assusta. É o contágio se disseminando. De Hong Kong a Chicago e por outros países. A morte corre em menos de 24 horas.

Os personagens se revezam. Beth Emhoff (Paltrow), executiva de uma multinacional, volta da China, para onde foi a negócios. Tosse. Na china, um rapaz apresenta febre, sintomas de gripe e morre. Beth Emhoff morre pouco depois, para desconcerto de seu marido Mitch (Matt Damon), que logo depois vê o enteado morrer do mesmo mal. Teme pela filha, Jory (Anna Jacoby-Heron). Entra em campo a Dra. Erin Mears (Kate Winslet), a pedido do seu chefe, o Dr. Cheever (Laurence Fishburne). Todos tentam conter a ameaça.

Na china, a Dra. Leonora Orantes (Marion Cotillard) tenta descobrir quem é a vítima índice, o primeiro contaminado. Mas sofrerá um revés inesperado. Em Londres, o jornalista blogueiro Alan Krumwiede (Jude Law) passa por cima dos jornais tradicionais e dispara acusações e sensacionalismo pela internet. Arrebanha milhares de leitores.

Contágio não busca o registro de filmes catástrofes. Quer particularizar essas histórias, trazê-las para perto do público. Mas com tantas histórias em paralelo ou interligadas, a trama perde amarração e se afrouxa. Comete equívocos no roteiro, como introduzir dramas que não levam a lugar nenhum, que não acrescentam nada.

O acerto está no ritmo da montagem e na trilha, duas características do estilo Soderbergh de contar histórias. Ganha-se em dinamismo, mas se dilui o medo, tão bem construído no início. O resultado é frio. Um filme asséptico demais para uma história sobre contaminação.

Com o medo perdido no meio do caminho, não resta muito á trama senão beirar o caos pleno e instigar, aqui e ali, questões e situações. Nada que emocione, comova ou faça refletir. Como o medo do início, o filme também fica pelo meio do caminho.
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