quinta-feira, setembro 01, 2011

Um Conto Chinês


Un Cuento Chino
Sebastián Borensztein
Argentina/Espanha, 2011
93 min.

Num primeiro momento, talvez você não associe o nome à pessoa, mas provavelmente já o conhece. Ricardo Darín. Ele é o grande nome do cinema argentino. Prova disso são os muitos filmes que protagoniza, sempre com ótimas atuações. “O Filho da Noiva”, “Nove Rainhas”, “Abutres” e “O Segredo de Seus Olhos” - este último vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 2010 - são alguns exemplos.

Em “Um Conto Chinês”, simpática comédia dramática que estreia na próxima sexta (02), Darín interpreta Roberto, um homem solitário e sistemático. Vive em Buenos Aires, administra uma pequena loja de ferragens deixada pelo pai e gosta de colecionar coisas, especialmente recortes de jornais com notícias absurdas. Seu único amigo é Leonel (Ivan Romanelli), jornaleiro que traz os periódicos que recorta. Apegado á sua rotina, resiste às investidas da cunhada de Leonel, Mari (Muriel Santa Ana), apaixonada por ele.

A segurança e o conforto de Roberto serão drasticamente alterados quando Jun (Ignácio Huang) “cai” em sua vida. Jun é um chinês recém-chegado à cidade, que foi roubado por um taxista e atirado para fora do carro. Ao testemunhar a violência de que Jun foi vítima, Roberto, um pouco a contragosto, tenta ajudá-lo. O jovem chinês não fala uma palavra em espanhol e Roberto não tem muita paciência. Um endereço tatuado no braço de Jun será a pista inicial para uma solução. Pista que acaba dando em nada e Roberto se vê obrigado a levar o chinês para sua casa.

“Um Conto Chinês”, tradução literal do título original, é uma expressão portenha que significa grande mentira, algo como a nossa expressão “história de pescador”. Jun saiu de seu país após perder a noiva em um acidente surreal e procura por seu tio, que vive há muito tempo em Buenos Aires. Mas o velho se mudou e não deixou rastro. A busca pelo tio de Jun faz o filme patinar um pouco sem sair do lugar. O drama do chinês e a falta de habilidade de Roberto para lidar com a situação equilibra o filme entre o cômico e o sóbrio. É divertido sem precisar ser muito engraçado, humaniza os personagens e dá vida a uma fábula insólita de riso com um pouco de tristeza.

A convivência com Jun, sempre difícil para Roberto, o leva a enfrentar situações novas, o coloca em conflito, fora de sua zona de conforto. São mudanças. Como as cenas em que Jun passa a limpar e organizar o quintal atulhado de Roberto. A mudança clara que sofre aquele espaço depois da limpeza torna-se um sutil espelho das mudanças que Roberto terá de fazer dentro de si mesmo.

Nos desdobramentos da narrativa, desdobra-se também os traumas e ressentimentos que Roberto tem com a vida, que julga absurda e sem sentido. Talvez, por descobrir em Jun uma inesperada comunhão na tragédia, Roberto repense seu fechamento para o mundo e descubra que ainda há tempo para viver, para dar uma nova chance à vida. Mesmo que ela seja sempre tão cheia de absurdos, como num conto chinês.
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