Feliz Natal
Selton Mello
Brasil, 2007
Em Feliz Natal, estréia de Selton Mello na direção, a angústia adquire uma intensidade tão grande que chega a ser quase palpável. Seus personagens são movidos pelo remorso, pela loucura, pelo ódio, pelo vazio, pela culpa silenciosa, pela angústia incrustada no âmago de cada um. E toda essa gama de aflições e flagelos pessoais habita e se constrói no seio da família e se revela em sua totalidade mais intensa na noite de natal.

Isso se revela na mãe Mércia (Darlene Glória), alcoólatra e dependente de barbitúricos, no irmão Theo (Paulo Guarnieri), que transita entre os conflitos da família e carrega no rosto uma tristeza inconsolável, no pai Miguel (Lúcio Mauro), que se recusa a envelhecer e vive com uma mulher com idade para ser sua neta, na cunhada Fabiana (Graziella Moretto) que representa um frágil artificialismo de unidade familiar, nos amigos de juventude, solitários, bêbados, fracassados.

Feliz Natal tem muitas vezes uma textura onírica, de luzes mornas, de pessoas transitando alheias e indiferentes. O diretor opta por uma narrativa com tomadas próximas, closes fechados, que aproximam os rostos marcados dos personagens e os revela no olhar, na pele sulcada, na textura da angústia de suas faces. Utiliza planos seqüência com a câmera na mão e cria com isso uma sensação de continuidade do desconcerto, de fuga impossível para quem vive em meio à desestrutura de vidas perdidas.

Feliz Natal é um filme denso, angustiante, sofrido. Um filme que tem sua melhor expressão no silêncio que se segue a resposta de uma pergunta, quando Theo, já de saída, pergunta a Caio: “Você queria me falar alguma coisa?” E Caio, com o olhar desolado, responde simplesmente: “Queria”. O silencio que se segue é de uma expressividade assombrosa e diz mais do que qualquer palavra. Feliz Natal não é um filme silencioso, mas guarda no silêncio íntimo de cada um a percepção de vidas destroçadas em família.
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