quinta-feira, novembro 10, 2011

Late Bloombers – O Amor Não Tem Fim




Late Bloomers
Julie Gavras
França, Bélgica, Reino Unido, 2011
95 min.

Uma comédia romântica da terceira idade. A própria diretora Julie Gavras nunca renegou este rótulo a seu novo filme, o segundo de sua carreira, que começou promissora com o divertido e terno A Culpa é do Fidel. Filha do renomado e polêmico diretor Costa-Gavras, Julie realiza agora uma boa comédia sobre alguns sintomas do envelhecimento, sintomas muito mais intensos no psicológico do que no corpo. Ao menos para seus dois protagonistas.

William Hurt e Isabella Rossellini são Adam e Mary, um casal às voltas com a vida de sexagenários. Ele é um renomado arquiteto que 30 anos atrás revolucionou a arquitetura de aeroportos e terminais rodoviários. Ela é uma professora aposentada que após um esquecimento súbito passa a perceber a própria idade como antes não percebia.

Esta percepção da idade de Mary se agravará quando, por conselho médico, ela decide fazer exercícios e se envolver com alguma atividade que a mantenha ocupada. Enquanto isso, seu marido reluta em aceitar um projeto de condomínio exclusivo para idosos. Ele está muito mais interessado na possibilidade de desenhar um novo e moderno museu, estimulado por sua equipe jovem.

A graça de Late Bloomers está na paranoia oposta que cada um deles passa a desenvolver. Enquanto Mery se entrega a antecipar uma condição de limitações físicas - enchendo a casa de acessórios “facilitadores” da terceira idade (barras de apoio e utensílios ergonômicos para idosos) -, Adam se recusa a esta entrega e passa a agir de forma pateticamente jovem.

Julie trabalha com desenvoltura situações e diálogos que revelam não apenas uma perversidade cômica em situações pragmáticas do envelhecimento, mas também uma ironia que traz em si uma reflexão sobre o assunto. Sem qualquer pretensão de se fazer um retrato ou uma denúncia, apresenta personagens e pensamentos que expõem o inevitável em cada ser humano: a ação do tempo e as consequências dele.

Como comedia romântica, Late Bloomers se destaca pela abordagem original, nos livrando da mesmice das situações juvenis que o gênero sempre apresenta. Por outro lado, não consegue fugir do esquemático roteiro desse gênero, com sua trama que se enrola e desenrola no mesmo ritmo das comédias românticas comuns.

Mesmo repetindo uma fórmula gasta, o filme alcança um tom de originalidade com sua inversão de visões. Alcança, assim, uma certa dose de verdade, especialmente no modo como a câmera sempre transcreve o rosto de Rossellini em toda sua magnitude de vincos e marcas do tempo. É este rosto carregado de tempo - mas preservando uma beleza inata - e sua desinibição diante da câmera impiedosa no registro desse tempo que dão a tônica do filme. Uma opção muito feliz.

Sem grande pretensão, Late Bloomers funciona como comédia, funciona como romântica e funciona como algo diferente. Embora seja por vezes mais do mesmo, é um “mesmo” mais original e inesperado, muito gostoso de se ver.
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