sábado, agosto 13, 2011

A Árvore de Vida



The Tree of Life
Terrence Malick
EUA, 2011
139 min.

Logo após assistir a “A Árvore de Vida”, novo filme de Terrence Malick que estreou neste final de semana, você saberá que não acabou simplesmente de ver um filme, mas sim que acabou de passar por uma experiência sensorial. Ter gostado ou não, ter entendido ou não, ter cochilado no meio ou não, fica a critério e disposição de cada um. O cinema de Terrence Malick não é feito de concordâncias e assentimentos de opiniões. De genial a vazio, de obras-primas a embustes, tudo é discordância na análise de seus filmes. Há quem ame, há quem deteste, há quem não se arrisque.


Risco é a palavra-chave na tentativa de qualquer leitura de “A Árvore da Vida”. Da beleza perfeccionista de cada plano (em luz, tonalidades das cores, trilha sonora, sussurros e imaterialidade do tempo e do espaço) até a ausência de uma narrativa convencional, pairando entre a memória, a incompreensão do universo e o significado da vida retido nas palavras Pai, Mãe, Irmão, o filme parece abarcar tanto de uma filosofia, de uma busca de respostas filosóficas ou divinas que facilmente pode ser encarado como grande nada. Como um vazio de sentido obliterado pelas imagens cadentes.

Um telegrama com a morte de um filho, o desencadeamento da dor, da perda. O irmão mais velho dessa família que perdeu um filho, e ele um irmão, décadas depois, entre o vazio dos prédios modernos, a angústia de uma vida que aparentemente não o leva a nada, a lembrança da infância com os irmãos em um subúrbio de uma cidade Texana nos anos 50. A mãe que derrama sobre eles um amor de sublime luz e divino sorriso, o pai que quer forjá-los a ferro e fogo para a vida com a qual ele se decepciona. Os atritos, a felicidade simples, o ódio, o amor e sensação de falta de respostas para sentimentos imperfeitos. Entre isso, o universo. O Big Bang, o surgimento das galáxias, as eras de formação da Terra, o surgimento a vida, desde os seres microscópicos até os dinossauros. Deus.


Tudo isso se desenha entre o onírico da busca por respostas, os sentimentos em busca de sentido e a nostalgia, ora doce, ora amarga, de uma infância comum. Isso é tudo. Para alguns, pode ser nada.


Este filme de Malick trás algo de novo em relação a seus filmes anteriores. Há evidências de fatos autobiográficos, como a infância no Texas, a primogenitura, o irmão morto aos 19 anos. Mas o filme abrange uma dimensão tão ampla de interpretações, que mesmo isso é pouco para uma leitura.

A mim, depois de vê-lo, senti-me satisfeito. Acredito que grandes obras do cinema não precisam de explicação e que gostar de um filme sem saber porquê se gosta é algo que precisamos apreciar. Como disse Pedro Butcher, precisamos reaprender a sair do cinema confusos, sem que isso seja um desconforto ou um fato negativo para o filme.

“A Árvore da Vida” tem esse efeito. Divaga pelo espírito humano, pela busca do divino, pelas perguntas sem respostas, como uma filosofia que vai da afetação macrocósmica ao minimalismo da existência humana. Não se revela nunca de forma clara. Pode até não querer dizer nada, mas o faz com uma rara beleza metafísica e desconcertante.

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