Mesmo sendo uma comédia morna de roteiro frágil, O Dobro ou Nada tem na manga algumas cartas que evitam o completo desastre do jogo. Essas cartas são alguns nomes de seu elenco, cujo carisma torna suportável uma trama quase sem conflitos e tensões. Bruce Willis, Catherine Zeta-Jones e o quase sempre impagável Vince Vaughn são os nomes que orbitam em torno da protagonista vivida por Rebecca Hall.
Dirigido por Stephen Frears – que tem no currículo produções
marcantes como Ligações Perigosas
(1988), Alta Fidelidade (2000) e A Rainha (2006) – o filme é uma
adaptação do livro autobiográfico Lay the
Favorite, de Beth Raymer. Conta a história de uma garota ingênua que vai a
Las Vegas a procura de trabalho e acaba se envolvendo com um bookmaker boa praça.
Trabalhando como stripper
a domicilio, Beth (Hall) decide sair dessa vida depois de um episódio um tanto
assustador. Vai então para Las Vegas atrás de algum trabalho bem remunerado. Lá
conhece Dink (Willis), que tem um escritório de apostas para todo tipo de
competição, de corrida de cavalos a concurso de miss, passando por qualquer
liga esportiva conhecida nos EUA.
Demonstrando talento para lidar com números e apostas, Beth
é contratada por Dink, mas terá de lidar com a oposição de Tulip (Zeta-Jones), a
ciumenta e dominadora esposa-perua de seu novo patrão.
Entre superficialidades de sentimentos e uma relação mal
explicada entre Dink e a esposa, o filme se desdobra com a fraqueza de situações
sem apelo dramático ou cômico. Rebecca Hall segue o roteiro garota sexy e
ingênua que de repente começa a se dar bem no mundo das apostas, ao mesmo tempo
que se apaixona pelo patrão. A atriz não apenas está fraca em seu papel como
parece deslocada no meio do elenco.
O Dobro ou Nada busca
revelar um pouco os bastidores do mundo das apostas e como cotações podem ser
manipuladas pelos jogadores de peso que atuam derrubando ou elevando essas cotações.
Mas depois de desenhar esse cenário, o filme se encaminha para mais uma lição
de moral a respeito de responsabilidade e até de amizade.
Seu grande vazio, contudo, está no modo como o roteiro se
desdobra. Se em geral as comédias românticas pecam pelo exagero de suas tramas
rocambolescas, aqui há um excesso de fragilidade em como a trama se
desenrola. Os conflitos apresentados nunca parecem sérios e a solução
deles se dá sempre de maneira simplista. Mesmo para uma
comédia, alguma tensão dramática é sempre necessária, mas neste caso parece ter
sido inteiramente deixada de lado.
Já a graça e o fazer rir enquanto comédia fica no mais raso
do riso, salvo apenas pelas poucas participações de Vincent Vaugh, que faz um
bookmaker fanfarrão. Vaugh pode ser visto como uma versão hollywoodiana de
nosso Paulo Silvino: ainda que traga sempre os mesmos trejeitos e entonação na fala,
sua graça espontânea é quase sempre irresistível.
O que surpreende mesmo em O Dobro ou Nada é seu resultado tão fraco vindo de um diretor como
Stephen Frears. Ainda que este nunca tenha alcançado status de gênio e tenha
uma carreira de alternância entre filmes autorais e de mercado, esta comédia
ingênua passa longe do que se poderia esperar do nome por trás da câmera.
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Lay the Favorite
Stephen Frears
EUA/Reino Unido, 2012
94 min.
Trailer
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