terça-feira, fevereiro 19, 2013

O Dobro ou Nada


Mesmo sendo uma comédia morna de roteiro frágil, O Dobro ou Nada tem na manga algumas cartas que evitam o completo desastre do jogo. Essas cartas são alguns nomes de seu elenco, cujo carisma torna suportável uma trama quase sem conflitos e tensões. Bruce Willis, Catherine Zeta-Jones e o quase sempre impagável Vince Vaughn são os nomes que orbitam em torno da protagonista vivida por Rebecca Hall.

Dirigido por Stephen Frears – que tem no currículo produções marcantes como Ligações Perigosas (1988), Alta Fidelidade (2000) e A Rainha (2006) – o filme é uma adaptação do livro autobiográfico Lay the Favorite, de Beth Raymer. Conta a história de uma garota ingênua que vai a Las Vegas a procura de trabalho e acaba se envolvendo com um bookmaker boa praça.

Trabalhando como stripper a domicilio, Beth (Hall) decide sair dessa vida depois de um episódio um tanto assustador. Vai então para Las Vegas atrás de algum trabalho bem remunerado. Lá conhece Dink (Willis), que tem um escritório de apostas para todo tipo de competição, de corrida de cavalos a concurso de miss, passando por qualquer liga esportiva conhecida nos EUA.

Demonstrando talento para lidar com números e apostas, Beth é contratada por Dink, mas terá de lidar com a oposição de Tulip (Zeta-Jones), a ciumenta e dominadora esposa-perua de seu novo patrão.

Entre superficialidades de sentimentos e uma relação mal explicada entre Dink e a esposa, o filme se desdobra com a fraqueza de situações sem apelo dramático ou cômico. Rebecca Hall segue o roteiro garota sexy e ingênua que de repente começa a se dar bem no mundo das apostas, ao mesmo tempo que se apaixona pelo patrão. A atriz não apenas está fraca em seu papel como parece deslocada no meio do elenco.

O Dobro ou Nada busca revelar um pouco os bastidores do mundo das apostas e como cotações podem ser manipuladas pelos jogadores de peso que atuam derrubando ou elevando essas cotações. Mas depois de desenhar esse cenário, o filme se encaminha para mais uma lição de moral a respeito de responsabilidade e até de amizade.

Seu grande vazio, contudo, está no modo como o roteiro se desdobra. Se em geral as comédias românticas pecam pelo exagero de suas tramas rocambolescas, aqui há um excesso de fragilidade em como a trama se desenrola. Os conflitos apresentados nunca parecem sérios e a solução deles se dá sempre de maneira simplista. Mesmo para uma comédia, alguma tensão dramática é sempre necessária, mas neste caso parece ter sido inteiramente deixada de lado.

Já a graça e o fazer rir enquanto comédia fica no mais raso do riso, salvo apenas pelas poucas participações de Vincent Vaugh, que faz um bookmaker fanfarrão. Vaugh pode ser visto como uma versão hollywoodiana de nosso Paulo Silvino: ainda que traga sempre os mesmos trejeitos e entonação na fala, sua graça espontânea é quase sempre irresistível.

O que surpreende mesmo em O Dobro ou Nada é seu resultado tão fraco vindo de um diretor como Stephen Frears. Ainda que este nunca tenha alcançado status de gênio e tenha uma carreira de alternância entre filmes autorais e de mercado, esta comédia ingênua passa longe do que se poderia esperar do nome por trás da câmera.
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Lay the Favorite
Stephen Frears
EUA/Reino Unido, 2012
94 min.

Trailer

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