Já foi dito que o sucesso de Woody Allen se deve ao fato de seus filmes conseguirem fazer o público médio se sentir inteligente. Talvez seja essa a aposta da produção francesa Paris-Manhattan, ao rechear sua irregular narrativa com referências ao diretor norte-americano. O truque é claro: se você já viu uns dois ou três filmes de Allen, vai captar as referências - e se sentir esperto por isso.
De família judia, Alice (Alice Taglioni) é fascinada pelo
diretor de Hanna e Suas Irmãs desde
que tinha 15 anos. Viu todos os filmes e não aceita que falem mal deles. No seu
quarto, ostenta um grande pôster estampando Allen com uma expressão
interrogativa.
Vem também da juventude seu desacerto com o mundo, um misto
de independência e atitude que resultam na sua solteirice, nas discrepâncias
com a família e no seu modo de vida. Na farmácia que herdou do pai, além de
analgésicos, ansiolíticos e complexos vitamínicos, receita também a seus
clientes filmes do seu diretor favorito como solução para alguns males.
A cômica disfunção familiar, o sexo, o “ser judeu”, as
citações freudianas, a reverência a Bergman, os diálogos engraçados e alguma
filosofia de almanaque - travestidas de piadas inteligentes - também estão lá.
No contexto, funcionam tanto como homenagem quanto como riso. É um filme
divertido, sem dúvida. Mas cansa.
Seja por querer ser mais woody-alleniano que Woody Allen, ou
pela falta de apuro na elaboração do roteiro, o filme margeia um desconfortável
tom insólito. Mas não se assume como tal em momento algum, dando à sua
narrativa uma irregularidade que achata todos os personagens e fragmenta em
excesso o andamento.
De destaque mesmo, apenas o charme divertido do ator Patrick
Bruel, ótimo no papel de cínico apaixonado, além de uma surpresa de luxo no
final. Um toque que poderia resultar numa muito melhor aproveitada sequência se
o filme não tivesse se perdido lá pelo meio do caminho.
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Paris-Manhattan
Sophie Lellouche
França, 2012
77
min.
Trailer
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