segunda-feira, julho 29, 2013

Apenas o Vento





O aviso que abre o filme húngaro Apenas o Vento alerta o espectador para o fato de o filme não ser um documentário, embora seja inspirado em fatos reais. Entre 2008 e 2009, na Hungria, um grupo de extrema-direita teria assassinado seis ciganos, entre eles mulheres e crianças, além de praticar diversos atos de violência contra essa etnia.

É a partir desse fato que o diretor Benedek Fliegauf vai desenvolver sua ótica, ao retratar a rotina na vida de uma família cigana cercada pelo medo das mortes que estão ocorrendo no vilarejo onde vivem. O filme rendeu ao diretor o Urso de Prata no Festival de Berlin, em 2012.

Fliegauf desenvolve uma perspectiva em que revela uma permanente violência subentendida no preconceito atávico que afeta os personagens. Ao mesmo tempo, cria uma atmosfera de tensão, como se a explosão trágica dessa violência subentendida estivesse sempre perto de acontecer.

Feito uma ironia ante o aviso que abre o filme, a câmera do diretor está sempre próxima de seus personagens. Com isso, além do efeito natural de uma atmosfera sufocante em um cotidiano árido, essa proximidade da câmera gera uma perspectiva de “documento”, de registro fiel não aos acontecimentos reais, mas a uma realidade que na ficção encontra sua voz de denúncia e de real.

É sob essa ótica de proximidade quase íntima que seguimos o dia de três personagens. Mari (Katalin Toldi) vive numa aldeia com o pai inválido e seus dois filhos: a adolescente Anna (Gyöngyi Lendvai) e o menino Rió (Lajos Sárkány).

Com a notícia do assassinato de uma família de ciganos da mesma aldeia em que vivem, o filme acompanhará o dia desses três personagens, da manhã até a noite. Enquanto Mari se desdobra em dois empregos, as crianças devem ir à escola.

É no seio dessa rotina que o preconceito contra ciganos vai se definir em detalhes que vão do simbólico – como um ônibus que para depois do ponto – até o ostensivo, como o diálogo entre dois policiais.

Em toda essa trama de subtexto, a violência também subentendida – seja nos pequenos abusos, seja na condição precária de vida – serve de anteparo à violência real que está prenunciada no medo, nos gestos e nos anseios dos personagens por algo melhor.

A relação entre esses elementos é estabelecida ao longo do dia pela câmera sempre próxima, como se o espaço desses personagens no mundo fosse menor que o de outras pessoas. É uma proximidade que não apenas sufoca, mas restringe, apequena no sentido espacial e humano a dignidade que deveria ser universal e ampla. Mas não é.

Fliegauf se mostra muito feliz na construção dessa atmosfera que traduz sentimento e medo. Seu filme tem como propósito mostrar. Não faz juízo do que revela e arma sua ficção com filtro de realidade. Num jogo de desconstrução entre o que afirma (o alerta do início do filme) e o que mostra, exime-se do rótulo de documento, para à sua maneira ficcional melhor documentar.
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Csak a szél
Benedek Fliegauf
Hungria/Alemanha/França, 2012
86 min.


Trailer

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