Mais do que fonte de prazer carnal, o corpo da
mulher pode ser um templo de veneração e devoção. Em parte, é sobre este
princípio que se constrói o erotismo poético do clássico da literatura japonesa
A Casa das Belas Adormecidas, de
Yasunari Kawabata, publicado em 1961. E é o mesmo princípio que está implícito
na afirmação de que a vagina é um templo, feita no filme Beleza Adormecida, que estreia nesta sexta-feira (30).

Leigh bebe na fonte do livro de Kawabata, mas inverte o foco
narrativo. Se no livro japonês a história é vista sob a perspectiva de um sexagenário
frequentador da casa, em Beleza
Adormecida acompanhamos o dia-a-dia de Lucy (Emily Browning, de Sucker Punch), uma das garotas
adormecidas. Em ambas histórias, a tristeza e o vazio existencial é explorado
sob a pincelada da beleza poética da nudez e a fragilidade do sono – e toda uma
gama de onirismos derivados dessa combinação.

Em sua composição, Beleza
Adormecida quer ser algo provocativo, fazendo de sua narrativa uma
experiência de beleza triste, de vazio existencial. No seu desejo de ser cult, o filme deixa, propositalmente,
grandes lacunas na construção da protagonista e de suas relações pessoais. Não
entrega sua história, apenas dá algumas pistas. O recurso é sempre válido na
construção elíptica de personagens desajustados e misteriosos, mas aqui peca
pelo excesso.
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Resta ao filme a beleza de suas imagens. Sua direção de arte
é equilibrada, tem apuro, e sua composição chega muito próximo de um efeito contemplativo
perturbador. Porém, ao se perder nas elipses estilísticas do roteiro, o filme torna-se
o vazio de si mesmo. É como deveriam ser os personagens e seus sentimentos, não
a narrativa. Fica-se a impressão de um exercício desconexo, desatrelado de
qualquer possibilidade insinuada, redundante na sua concepção visual como um
fim em si mesmo.
--
Sleeping Beauty
Julia Leigh
Austrália, 2011
104 mn.
Assista ao
trailer
2 comentários:
Rogério, antes de tudo, parabéns pela forma como conceitua seu espaço - estou fascinado pela sua maneira de percorrer cada obra, com um olhar próprio e que expressa uma forte personalidade em seus textos. Vou te lendo, aos poucos, gostei muito do que já experimentei e, mais a frente, comento outros textos!
te linkei ao meu blog agora, espero que conheça e goste. Parabéns esmo! Você usa outras redes sociais? facebook ou twitter? abs!
Olá, Cristiano. Muito obrigado pelas gentis palavras. Fico feliz que goste do Eu, Cinema. Certamente visitarei seu blog. Não tenho twitter, mas no facebook apareço como Rogério de Moraes. Grande abraço.
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