Por ser um filme tão aberto, montado desde o início sobre
elipses e que não apresente respostas fáceis para a natureza dos personagens,
nem para as relações que se estabelecem entre eles, O Mestre acaba sendo quase que uma antítese do que se vê por aí em
matéria de cinema. E isso pode incomodar alguma plateia, especialmente aos que
esperam uma tradicional trama mastigada, com respostas muito bem explicadas.

Joaquin Phoenix é Freddie, um ex-combatente da marinha que
lutou durante a Segunda Guerra Mundial. Terminado o conflito, ele tem de se ajustar
novamente ao mundo. O problema é que Freddie nunca foi ajustado. Alcoólatra e
preparador de bebidas clandestinas cuja química pode envolver até solvente e
combustível, ele tem a mãe internada num hospício e uma condição de desencaixe
com a vida que se reflete até mesmo em sua postura. Este ser curvo, na postura
e nos caminhos, revela um profundo medo de si mesmo. Parte por conta de uma
possível herança de desequilíbrio mental e parte por possíveis traumas de
guerra.
É quando está a caminho do fundo do poço que Freddie cruza o
caminho de Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), um misto de pastor,
filósofo, escritor e cientista que lidera uma seita baseada na regressão a
vidas passadas e procedimentos pseudocientíficos de psicanálise. É início dos
anos 50 e esta religião começa a atrair adeptos.

Do encontro entre os dois personagens nasce uma relação
complexa, na qual Dodd tentará domar o desajuste violento e impulsivo de
Freddie. Um esforço que irá de encontro a sua esposa, pilar forte e discreto do
homem. Ela é Peggy e sua força será sentida na atuação intensa de Amy Adams,
que mesmo tendo uma participação menor na trama, fará sua personagem exalar o
tipo de poder que só as mulheres têm quando por trás de um homem.

Em meio a elipses e pequenas frestas para o passado dos
personagens, o filme vai criando um desconforto permanente. Não revela nunca as
reais intenções por trás dos gestos ou o que buscam. Para Dodd, Freddie pode
ser o grande desafio de sua crença, mesmo quando parece, ele mesmo, não crer nela
integralmente. Essa tênue incerteza entre acreditar no que diz (e nisso
implicaria, assim como em Freddie, um traço de desajustada sanidade) e o
charlatanismo mais descarado, é o que o filme trabalha de melhor, nos deixando com
poucas respostas claras, mas cheios de indícios tênues.

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The Master
Paul Thomas Anderson
EUA, 2012
144 min.
Trailer
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